A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

Natalie colocou a braçadeira no braço direito.
— Dói?
— Não.
A pressão estava no limiar inferior do normal. Natalie removeu a braçadeira e trocou
os curativos do peito e da coxa. Não havia sinais visíveis de infecção em nenhuma das
feridas. Milagrosamente, ele parecia ter saído sem sepse de uma cirurgia em um ambiente
não esterilizado. A não ser que piorasse de repente, Saladin sobreviveria.
Abriu um pacote de gesso sintético de fibra de vidro e começou a trabalhar no braço.
Saladin a observava com atenção.
— Não é preciso esconder o rosto em minha presença. Afinal — disse, passando os
dedos pelo lençol branco que cobria seu corpo nu —, estamos bem familiarizados. —
Um hijabé é suficiente.
Natalie hesitou, e então removeu a pesada peça preta. Saladin fitou seu rosto.
— Você é muito bonita. Mas Abu Ahmed tem razão. Parece uma judia.
— Isso também deveria ser um elogio?
— Conheci muitas judias bonitas. E todo mundo sabe que os melhores médicos são
sempre judeus.
— Como médica árabe — disse Natalie —, tenho ressalvas quanto a isso.
— Você não é árabe, é palestina. Tem diferença.
— Tenho ressalvas quanto a isso também.
Silenciosamente, ela envolveu o braço dele com o gesso sintético. Ortopedia estava
longe de ser sua especialidade, mas, afinal, ela também não era cirurgiã.
— Foi um erro — falou ele, observando-a trabalhar — mencionar o nome de Abu
Ahmed na sua frente. Nomes costumam causar a morte das pessoas. Trate de esquecer o
que ouviu.
— Já esqueci.
— Ele me disse que você é francesa.
— Quem? — perguntou ela, em tom de brincadeira, mas Saladin não pegou a isca.
— Sim — continuou —, sou francesa.
— Aprovou nosso ataque ao Centro Weinberg?
— Chorei de alegria — ela respondeu.
— A imprensa ocidental disse que era um alvo civil. Posso garantir que não era.
Hannah Weinberg era associada de um oficial de inteligência israelense chamado Gabriel
Allon, e o tal centro para estudo do antissemitismo era uma fachada para o serviço
israelense. E foi por isso que o escolhi — ele ficou em silêncio. Natalie podia sentir seu
olhar nela enquanto trabalhava no braço. — Talvez você tenha ouvido falar desse
homem, Gabriel Allon — disse ele, enfim. — É um inimigo do povo palestino.
— Acho que li sobre ele nos jornais há alguns meses — respondeu ela. — É aquele
que morreu em Londres, não é?
— Gabriel Allon? Morto? — ele balançou a cabeça de leve. — Não acredito nisso.


— Fique em silêncio um pouco — pediu Natalie. — É importante imobilizar direito
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