A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Fique em silêncio um pouco — pediu Natalie. — É importante imobilizar direito
seu braço. Senão, você vai ter problemas depois.
— E minha perna?
— Você precisa de cirurgia. Cirurgia de verdade em um hospital de verdade. Senão,
sua perna ficará muito danificada.
— Vou ser um aleijado, é isso que está dizendo?
— Seus movimentos vão ficar restritos, você vai precisar de uma bengala para andar,
vai ter dores crônicas.
— Meus movimentos já são restritos — ele sorriu com a própria piada. — Dizem
que Saladin andava mancando, o Saladin verdadeiro. Não foi obstáculo para ele, e não vai
ser para mim também.
— Eu acredito — disse ela. — Um homem normal nunca sobreviveria a feridas tão
graves quanto as suas. Com certeza, Alá está olhando por você. Ele tem planos para
você.
— E eu — respondeu Saladin — tenho planos para você.
Ela terminou de engessá-lo em silêncio. Ficou contente com seu trabalho. Saladin
também.
— Talvez, quando sua operação tiver terminado, você possa voltar ao califado para
ser minha médica particular.
— Sua Maimônides?
— Exatamente.
— Seria uma honra — ela se ouviu dizer.
— Mas não vamos estar no Cairo. Assim como Saladin, sempre preferi Damasco.
— E Bagdá?
— Bagdá é uma cidade de rafidas.
Era uma gíria sunita preconceituosa para se referir a muçulmanos xiitas. Natalie
preparou uma nova bolsa de soro sem dizer nada.
— O que você está colocando no soro? — perguntou ele.
— Um remédio para sua dor. Vai ajudá-lo a dormir no calor da tarde.
— Não estou com dor. E não quero dormir.
Natalie conectou a bolsa ao dreno intravenoso e apertou-a para o líquido começar a
fluir para as veias dele. Dentro de alguns segundos, os olhos de Saladin ficaram
embotados. Ele lutou para mantê-los abertos.
— Abu Ahmed tem razão — disse, observando-a. — Você parece judia.
— E você — falou Natalie — precisa descansar.
As pálpebras fecharam-se como venezianas e Saladin deslizou impotente para a
inconsciência.

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