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SERAINCOURT, FRANÇA
m dia — disse Gabriel —, vão escrever um livro sobre você.
— Engraçado — respondeu Natalie —, Saladin me disse a mesma coisa.
Estavam caminhando por uma trilha no jardim do château. Um pouco de luz vazava
pelas portas francesas da sala de estar, mas, fora isso, estava escuro. Uma tempestade
tinha ido e vindo durante as muitas horas do interrogatório, e o cascalho estava úmido
sob os pés deles. Natalie tremeu. O ar estava frio com a promessa do outono.
— Você está com frio — disse Gabriel. — Devíamos entrar.
— Ainda não. Tem uma coisa que quero contar em particular.
Gabriel parou e se voltou para olhá-la.
— Ele sabe quem você é — falou Natalie.
— O Saladin? — ele sorriu. — Estou lisonjeado, mas não surpreso. Tenho uma
legião de seguidores no mundo árabe.
— Tem mais, infelizmente. Ele sabe sobre sua ligação com Hannah Weinberg. E
suspeita que você esteja bem vivo.
Dessa vez, ele não desprezou as palavras dela com um sorriso.
— O que isso quer dizer? — perguntou Natalie.
— Quer dizer que nossas suspeitas sobre o Saladin ser um ex-agente da inteligência
iraquiana quase com certeza estão certas. Também quer dizer que ele provavelmente está
ligado a certos elementos na Arábia Saudita. Quem sabe? Talvez esteja recebendo apoio
deles.
— Mas o ISIS quer destruir a Casa de Saud e incorporar a Península Arábica ao
califado.
— Em teoria.
— Então, por que os sauditas apoiariam o ISIS?
— Você agora é nossa maior especialista no ISIS. Me diga você.
— A Arábia Saudita é um clássico caso de Estado que fica em cima do muro. Ela
combate o extremismo sunita ao mesmo tempo em que o alimenta. É como um homem
segurando um tigre pelas orelhas. Se o homem soltar o tigre, ele vai devorá-lo.
— Você obviamente estava prestando atenção durante aquelas longas palestras na
fazenda — disse Gabriel, com admiração. — Mas deixou de fora outro fator importante,
que é o Irã. Os sauditas têm mais medo do Irã do que do ISIS. O Irã é xiita. E o ISIS,
apesar de todo o mal, é sunita.