A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

O


PARIS–TIBERÍADES, ISRAEL

resto de setembro passou sem sobressaltos, bem como todo o mês de outubro, que,
em Paris, foi banhado de sol e mais quente que o normal, para o deleite dos artistas da
vigilância, os heróis não celebrados da operação. Na primeira semana de novembro, a
equipe foi tomada de algo próximo do pânico abjeto. Até Paul Rousseau, normalmente
plácido, estava fora de si, mas, até aí, ele precisava ser perdoado. Tinha um chefe e um
ministro nas costas dele, além de um presidente fraco demais para sobreviver a outro
ataque em solo francês. O presidente logo partiria para uma reunião em Washington
com seu colega americano, por isso Rousseau estava eternamente grato.
Natalie seguia firme, mas claramente estava ficando cansada de sua vida dupla na
tediosa banlieue. Não houve mais reuniões da equipe; eles se comunicavam com ela só
por mensagens de texto. Checagens de status sempre suscitavam uma resposta vaga. Ela
estava bem. Estava saudável. Estava entediada. Estava solitária. Nos dias de folga da
clínica, ela escapava da banlieue pelo trem RER e deixava os observadores loucos nas
ruas do centro de Paris. Durante uma dessas visitas, foi interpelada por uma francesa da
Frente Nacional que não gostou do hijab dela. Natalie devolveu na mesma moeda e, em
um instante, as duas mulheres estavam cara a cara em uma esquina lotada de gente. Se
não fosse pelo gendarme que as separou, podiam muito bem ter saído na mão.
— Uma performance admirável — disse Paul Rousseau a Gabriel naquela noite na
sede do Grupo Alpha na rue de Grenelle. — Tomara que Saladin tenha assistido.
— Sim — respondeu Gabriel. — Tomara.
Mas será que ele estava vivo? E, se estivesse, será que tinha perdido a fé na mulher
que o salvara? O maior medo deles era que o trem operacional de Saladin tivesse saído
da estação e a dra. Hadawi não tivesse recebido uma passagem. Enquanto isso, o sistema
piscava em vermelho. Capitais europeias, incluindo Paris, estavam em alerta, e, em
Washington, o Departamento de Segurança Nacional elevara, a contragosto, seu nível de
ameaça, apesar de publicamente o presidente continuar fazendo pouco caso do perigo. O
fato de avisos irem e virem sem nenhum ataque parecia dar força ao argumento dele de
que o grupo não tinha capacidade de criar um grande espetáculo do terror em solo
americano. Um acordo sobre mudança climática foi assinado, um pop star famoso lançou
um álbum muito aguardado, a bolsa de valores da China entrou em colapso e logo o
mundo esqueceu. Mas o mundo não sabia o que Gabriel e Natalie e o resto da equipe
sabiam. Em algum lugar do Iraque ou da Síria, havia um homem chamado Saladin. Ele
Free download pdf