Árabe, admirava gatos selvagens. A lealdade de Sami ao Escritório era inquestionável.
Seus instintos para o perigo também.
— Relaxe — disse Sami Haddad, encontrando os olhos de Mikhail no retrovisor. —
Não estamos sendo seguidos.
Mikhail olhou por cima do ombro para as luzes do trânsito que os seguia pela
estrada. Qualquer um daqueles carros podia conter uma equipe de matadores ou
sequestradores do Hezbollah ou de uma das organizações jihadista extremistas que
tinham se estabelecido nos campos de refugiados palestinos do sul — organizações que
faziam os membros do grupo al-Qaeda parecerem moderados islâmicos fora de moda.
Era a terceira visita dele a Beirute no último ano. Toda vez, entrava no país com o
mesmo passaporte, protegido pelo mesmo disfarce. Ele era David Rostov, um
empresário itinerante de descendência russo-canadense que comprava antiguidades
ilícitas no Oriente Médio para uma clientela majoritariamente europeia. Beirute era um de
seus locais favoritos para garimpo, pois ali tudo era possível. Certa vez, tinham
oferecido a ele uma estátua romana de dois metros de altura, incrivelmente intacta, de
uma amazona ferida. O custo da peça era dois milhões de dólares, com frete incluso.
Depois de incontáveis xícaras de café turco doce, ele convenceu o vendedor, um
comerciante influente de família conhecida, a diminuir o preço para meio milhão. E então
foi embora, ganhando a fama de negociante astuto e cliente difícil, uma reputação boa de
ter em um local como Beirute.
Ele olhou o horário em seu celular Samsung. Sami Haddad notou. Sami Haddad
notava tudo.
— A que horas ele está esperando você?
— Às dez.
— Tarde.
— O dinheiro nunca dorme, Sami.
— Nem me diga.
— Vamos direto para o hotel ou quer dar uma volta antes?
— Você decide.
— Vamos para o hotel.
— Sem problema.
Sami Haddad saiu da estrada para uma rua repleta de prédios coloniais franceses.
Mikhail a conhecia bem — doze anos antes, enquanto servia nas forças especiais Sayeret
Matkal, ele matou um terrorista do Hezbollah que dormia na cama de um esconderijo
secreto. Ser membro dessa unidade de elite era o sonho de todo garoto israelense, e foi
uma conquista especialmente notável para um menino de Moscou. Um menino que
tivera de lutar todos os dias de sua vida porque seus ancestrais por acaso eram judeus.
Um menino cujo pai, um importante acadêmico soviético, tinha sido trancado em um
hospital psiquiátrico porque ousara questionar a sabedoria do Partido. O menino
chegou a Israel com 16 anos. Aprendeu a falar hebraico em um mês e, dentro de um ano,
perdeu todos os traços de seu sotaque russo. Era como os milhões que haviam chegado
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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