antes dele, os pioneiros sionistas que tinham fugido da Palestina para escapar da
perseguição dos pogroms do Leste Europeu, os destroços humanos que saíram
cambaleando dos campos de concentração depois da guerra. Livrara-se da bagagem e
das fraquezas de seu passado. Era uma nova pessoa, um novo judeu. Era israelense.
— Ainda está tudo limpo — disse Sami Haddad.
— Então está esperando o quê? — respondeu Mikhail.
Sami fez o retorno para voltar à estrada e seguiu para a marina. Acima dela estavam
as torres de vidro e metal do Hotel Four Seasons. Sami guiou o carro até a entrada e
olhou no retrovisor para receber instruções.
— Ligue para mim quando ele chegar — disse Mikhail. — E me avise se ele tiver
um amigo.
— Ele nunca vai a lugar nenhum sem um amigo.
Mikhail pegou a maleta e a mala de mão do assento oposto ao dele e abriu a porta.
— Tome cuidado lá — disse Sami Haddad. — Não fale com estranhos.
Mikhail saiu do carro e, assoviando desafinadamente, passou direto pelos
mensageiros no lobby. Um segurança de terno escuro o encarou com desconfiança, mas
permitiu que entrasse sem revista. Mikhail cruzou um carpete grosso que engolia suas
pegadas e se apresentou no imponente balcão de recepção atrás do qual, iluminada por
um cone de luz acima de sua cabeça, estava uma mulher bonita de cabelos escuros e 20 e
cinco anos. Mikhail sabia que ela era palestina e que seu pai, um combatente de
antigamente, tinha fugido do Líbano com Arafat em 1982, muito antes de ela nascer.
Vários outros empregados do hotel também tinham ligações perigosas. Dois membros
do Hezbollah trabalhavam na cozinha, e havia vários jihadistas conhecidos na
governança. Mikhail considerava que cerca de dez por cento da equipe o mataria se fosse
informada de sua verdadeira identidade e profissão.
Sorriu para a mulher, que sorriu friamente de volta.
— Boa noite, senhor Rostov. Que bom vê-lo novamente — as unhas pintadas dela
batucavam em um teclado, e Mikhail começou a ficar tonto com o cheiro de azaleias
velhas. — Você fica conosco por apenas uma noite, certo?
— É uma pena — disse Mikhail, com outro sorriso.
— Precisa de ajuda com suas malas?
— Eu me viro.
— Fizemos um upgrade para um quarto deluxe com vista para o mar. Fica no 14o
andar — ela entregou a ele o conjunto de chaves do quarto e fez um gesto em direção
aos elevadores como se fosse uma aeromoça apontando a localização da saída de
emergência. — Bem-vindo de volta.
Mikhail levou a mala e a maleta para o hall, onde um elevador vazio aguardava, de
portas abertas. Ele entrou e, agradecendo pela solidão, apertou o botão do 14o andar.
Mas, quando as portas estavam se fechando, uma mão se enfiou na brecha entre elas e um
homem entrou. Era corpulento, com um sulco profundo acima da sobrancelha e um
maxilar feito para aguentar um soco. Seus olhos encontraram brevemente os de Mikhail