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KEY BRIDGE MARRIOTT
ouve um momento de confusão em relação a quem usaria qual colete suicida. Natalie
achou estranho — os coletes pareciam idênticos em tudo —, mas Safia insistiu. Queria
que Natalie usasse o colete com a pequena costura em fio vermelho ao longo do interior
do zíper. Natalie aceitou sem discutir e o levou para o banheiro, com cuidado, como se
fosse uma xícara com líquido fervente derramando. Ela tratara vítimas de armas como
aquela, pobres almas como Dina Sarid, cujos membros e órgãos vitais tinham sido
destruídos por estilhaços ou devastados pela força destrutiva invisível da onda de
choque. Ouvira as histórias macabras dos danos causados àqueles seduzidos a amarrar
bombas em seus corpos. Ayelet Malkin, sua amiga do Centro Médico Hadassah, estava
sentada em seu apartamento em Jerusalém certa tarde quando a cabeça de um homem-
bomba caiu como um coco em sua varanda. A coisa ficou ali por mais de uma hora,
olhando Ayelet com reprovação, até que finalmente um policial a colocou em um saco
plástico de coleta de evidências e levou embora.
Natalie cheirou o explosivo; tinha cheiro de marzipã. Ela segurou o detonador com
leveza na mão direita e passou o braço com cuidado pela manga da jaqueta Tahari
vermelha. O braço esquerdo foi ainda mais desafiador. Ela não ousava usar a mão direita
por medo de, acidentalmente, bater no botão detonador e explodir a si mesma e uma
parte do oitavo andar em pedacinhos. Depois, abotoou os cinco botões da jaqueta
usando só a mão esquerda, alisou a frente e endireitou os ombros. Ao olhar-se no
espelho, pensou que Safia tinha escolhido bem. O corte da jaqueta escondia perfeitamente
a bomba. Nem Natalie, com as costas doendo pelo peso das esferas de rolamento,
conseguia ver evidências dele. Havia só o cheiro, o aroma fraco de amêndoas e açúcar.
Ela olhou ao redor do interior do banheiro, para os cantos do espelho, para as
lâmpadas do teto. Certamente, os americanos estavam vendo e ouvindo. E certamente,
pensou ela, Gabriel estava vendo também. Ela se perguntou o que estavam pensando.
Tinha vindo a Washington na tentativa de identificar alvos e outros membros das células
de ataque. Até agora, não sabia nada porque Safia deliberadamente mantinha em segredo
até as informações mais básicas sobre a operação. Mas por quê? E por que Safia tinha
insistido que Natalie usasse o colete com a costura vermelha no zíper? Ela olhou de
novo ao redor do banheiro. Vocês estão assistindo? Estão vendo o que está acontecendo aqui?
Obviamente, eles tinham intenção de deixar rolar um pouco mais. Mas não muito,
pensou ela. Os americanos não deixariam uma terrorista conhecida como Safia, uma