A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

viúva negra com sangue nas mãos, andar pelas ruas de Washington com um colete
suicida. Como israelense, Natalie sabia que essas operações eram inerentemente
perigosas e imprevisíveis. Safia precisaria ser morta com um tiro certeiro no tronco
cerebral, vindo de uma arma de calibre grosso, para garantir que não tivesse ainda
capacidade de apertar o detonador com um último espasmo antes de morrer. Se o fizesse,
tudo o que houvesse perto seria rasgado em pedacinhos.
Natalie observou seu rosto no espelho pela última vez, como se estivesse decorando
seus traços — o nariz que ela detestava, a boca que achava grande demais para o rosto,
os olhos escuros sedutores. Então, inesperadamente, viu alguém parado ao seu lado, um
homem de pele pálida e olhos da cor do gelo glacial. Ele estava vestido para uma ocasião
especial, talvez um casamento, talvez um enterro, e segurava uma arma.
Na verdade, você é mais parecida comigo do que imagina...
Ela desligou a luz e voltou para o quarto. Safia estava sentada na ponta da cama,
vestida com o colete suicida e a jaqueta cinza. Ela olhava distraidamente para a televisão.
Sua pele estava branca como leite, seu cabelo caía pesado e sem vida ao lado do pescoço.
A jovem responsável por um massacre de inocentes em nome do islã obviamente estava
assustada.
— Você está pronta? — perguntou Natalie.
— Não consigo — falou Safia, como se uma mão estivesse apertando sua garganta.
— Claro que consegue. Não precisa ter medo.
Safia segurava um cigarro entre os dedos trêmulos da mão esquerda. A mão direita
estava em volta do detonador — apertando demais, pensou Natalie.
— Talvez eu devesse beber um pouco de vodca ou uísque — Safia estava dizendo.
— Dizem que ajuda.
— Você quer mesmo encontrar Alá cheirando a álcool?
— Suponho que não — os olhos dela saíram da televisão para o rosto de Natalie. —
Você não está com medo?
— Um pouco.
— Não parece. Na verdade, você parece feliz.
— Esperei muito tempo por isso.
— Pela morte?
— Por vingança — disse Natalie.
— Eu também pensei que queria vingança. Pensei que queria morrer...
A mão invisível tinha se fechado novamente em torno da garganta de Safia. Ela
parecia incapaz de falar. Natalie tirou o cigarro dos dedos dela, amassou-o e deixou a
bituca ao lado das outras doze fumadas naquela tarde.
— Não devíamos ir?
— Em um minuto.
— Para onde vamos?
Ela não respondeu.
— Você precisa me dizer o alvo, Safia.

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