— Você vai saber logo, logo.
A voz estava frágil como folhas mortas. Ela tinha a palidez de um cadáver.
— Você acha que é verdade? — perguntou ela. — Acha que vamos ao paraíso
depois que nossas bombas explodirem?
Não sei para onde você vai, pensou Natalie, mas não vai ser para os braços
amorosos de Deus.
— Por que não seria verdade? — Natalie devolveu a pergunta.
— Às vezes me pergunto se é só... — a voz dela falhou de novo.
— Só o quê?
— Uma coisa que homens como Jalal e Saladin dizem a mulheres como nós para nos
transformar em mártires.
— Saladin colocaria o colete se estivesse aqui.
— Colocaria mesmo?
— Eu o conheci depois que você foi embora do campo em Palmira.
— Eu sei. Ele gosta muito de você — havia uma ponta de ciúme em sua voz. Ela era
capaz, afinal, de pelo menos uma outra emoção além do medo. — Ele me disse que você
salvou a vida dele.
— Salvei.
— E agora ele está enviando você para morrer.
Natalie não disse nada.
— E as pessoas que vamos matar hoje? — perguntou Safia. — Ou as pessoas que eu
matei em Paris?
— Eram infiéis.
O detonador de repente ficou quente na mão de Natalie, como se ela estivesse
segurando uma brasa. Só queria arrancar o colete suicida. Ela olhou de relance ao redor
do quarto.
Vocês estão assistindo? O que estão esperando?
— Eu matei uma mulher na França — Safia estava dizendo. — Aquela Weinberg, a
judia. Ela ia morrer por causa dos ferimentos, mas eu atirei nela mesmo assim. Tenho
medo...
Ela parou no meio da frase.
— Medo de quê?
— De encontrá-la de novo no paraíso.
Natalie não conseguiu encontrar resposta alguma no poço de mentiras que carregava
em si. Colocou uma mão no ombro de Safia, de leve, para não assustá-la.
— Não devíamos ir?
Safia olhou vagamente para o celular, drogada pelo ópio do medo, e então levantou
cambaleando — cambaleando tanto que Natalie teve medo de ela apertar sem querer o
detonador tentando se equilibrar.
— Como estou? — perguntou.
Como uma mulher que sabe que só tem alguns minutos de vida, pensou Natalie.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1