A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

Como Saladin, Mikhail observou o interior do elegante salão de jantar do Café Milano
antes de se levantar. Ele também viu o medo nos rostos ao seu redor e, como Saladin,
soube que, num instante, muitas pessoas morreriam. Saladin tinha o poder de parar o
ataque; Mikhail, não. Mesmo se estivesse armado, o que não estava, as chances de
impedir o atentado eram exíguas. O dedo de Safia estava em cima do botão do detonador
e, quando ela não estava olhando para o relógio, olhava para Mikhail. Também não era
possível lançar nenhum tipo de alerta. Um alerta faria as pessoas correrem em pânico
para a porta, e mais gente morreria. Melhor deixar o colete explodir com os clientes onde
estavam. Os sortudos nas mesas perto das paredes e janelas talvez sobrevivessem. Os
mais próximos de Safia, que tinham sido colocados nas melhores mesas, seriam
poupados da notícia de que estavam prestes a morrer.
Lentamente, Mikhail desceu do banco do bar e ficou em pé. Ele não ousou sair do
restaurante pela entrada da frente; o caminho o faria passar perto demais da mesa de
Safia. Em vez disso, caminhou calmamente pelo bar em direção aos banheiros. A porta
do banheiro masculino estava trancada. Ele virou a maçaneta frouxa até ela ceder e
entrou. Um homem de 30 e poucos anos com gel no cabelo estava se olhando no
espelho.
— Qual é seu problema, cara?
— Você vai saber em um minuto.
O homem tentou sair, mas Mikhail segurou o braço dele.
— Não saia. Vai me agradecer depois.
Mikhail fechou a porta e puxou o homem para o chão.


De seu posto de observação em Prospect Street, Eli Lavon testemunhara uma série de
acontecimentos cada vez mais perturbadores. O primeiro foi a chegada de Safia
Bourihane ao Café Milano, seguida, alguns minutos depois, pela saída do árabe alto
conhecido como Omar al-Farouk. O homem estava agora no banco traseiro de um
Lincoln Town Car, estacionado a cerca de cinquenta metros da entrada do Café Milano,
atrás de um Honda Pilot azul. O pior de tudo era que Lavon tinha ligado várias vezes
para Gabriel no CNC, sem sucesso. Em seguida, ficara sabendo, pelo boulevard Rei
Saul e pelo rádio do carro, que o CNC tinha sido atacado por dois caminhões-bomba.
Agora, Lavon temia que seu amigo mais antigo do mundo estivesse morto, desta vez de
verdade. E temia que, em alguns segundos, Mikhail também fosse morrer.
Então, Lavon recebeu uma mensagem do boulevard Rei Saul dizendo que Gabriel
tinha sido levemente ferido no atentado ao CNC, mas ainda estava bem vivo. O alívio de
Lavon foi curto, pois, naquele mesmo instante, a trovoada de uma explosão balançou a
Prospect Street. O Lincoln Town Car saiu lentamente do meio-fio e passou pela janela

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