A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

Natalie correu para o banco da frente como se estivesse correndo para os braços de
sua mãe. O peso do colete a deixou grudada ao assento; o detonador parecia um animal
vivo na palma de sua mão. O carro fez o retorno e se juntou ao êxodo no sentido norte
vindo de Georgetown, com sirenes gritando por todo lado. Natalie cobriu os ouvidos,
mas não adiantou.
— Por favor, coloque uma música — ela implorou.
A mulher ligou o rádio do carro, mas não havia música em nenhuma estação, só
notícias terríveis. O Centro Nacional de Contraterrorismo, o Lincoln Memorial, o
Kennedy Center, Harbor Place: temia-se que a contagem de mortos passasse de mil.
Natalie só conseguiu ouvir por um ou dois minutos. Esticou a mão para o botão de
desligar do rádio, mas parou quando sentiu no braço uma dor aguda, como a picada de
uma víbora. Então, olhou para a mulher e viu que ela também segurava algo na mão
direita. Mas o dedo não estava em um botão de detonador; estava no êmbolo de uma
seringa.
Instantaneamente, a visão de Natalie ficou embaçada. O rosto queimado de sol da
mulher se perdeu; uma viatura policial deixou borrões vermelhos e azuis na noite.
Natalie gritou um nome, o único de que conseguia se lembrar, antes que uma escuridão
caísse sobre ela. Era como a escuridão do abaya. Ela se viu caminhando por uma casa
árabe de muitos cômodos e pátios. E, no último cômodo, parado sob a luz pastosa de
um óculo, estava Saladin.

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