Finalmente, o céu na janela de Mikhail ficou azul-escuro com a proximidade do
amanhecer. Ele colocou o quarto em ordem e, trinta minutos depois, entrou curvado e
de olhos vermelhos no banco detrás do carro de Sami Haddad.
— Como foi? — perguntou o libanês.
— Perda de tempo total — respondeu Mikhail, ao mesmo tempo em que dava um
elaborado bocejo.
— Para onde vamos agora?
— Tel Aviv.
— Não é um caminho muito fácil, meu amigo.
— Então, talvez você devesse me levar ao aeroporto mesmo.
O voo era às oito e meia. Ele passou tranquilamente pelo controle de passaporte
como um canadense sorridente e um pouco sonolento, e se acomodou em uma poltrona
da primeira classe de um avião da Middle East Airlines com destino a Roma. Para evitar
contato com seu vizinho, um vendedor turco de aparência infame fingiu ler os jornais da
manhã. Na verdade, estava considerando todas as possíveis razões pelas quais uma
aeronave operada pelo governo do Líbano poderia não chegar sã e salva ao seu destino.
Pela primeira vez, pensou taciturnamente, sua morte teria consequências, pois a
informação morreria com ele.
De quanto dinheiro estamos falando, Clovis?
Quatro milhões, talvez cinco.
Qual dos dois?
Mais para cinco...
O avião pousou em Roma sem incidentes, mas Mikhail levou quase duas horas para
se livrar da debandada que era o controle de passaporte no aeroporto de Fiumicino. Sua
estadia na Itália foi breve, apenas o tempo suficiente para trocar de identidade e embarcar
em outro avião, um voo da El Al com destino a Tel Aviv. Um carro do Escritório
esperava no Ben Gurion e o despachou rapidamente para o boulevard Rei Saul. O
prédio no extremo oeste da rua era, como o posto avançado de Paul Rousseau na rue de
Grenelle, uma fraude em plena vista. Não havia placa em sua entrada, nenhum letreiro de
cobre proclamava a identidade de seu ocupante. Na verdade, nada sugeria se tratar da
sede de um dos serviços de inteligência mais temidos e respeitados do mundo. Uma
inspeção mais atenta da estrutura, porém, revelaria a existência de um prédio dentro do
prédio, com seu próprio fornecimento de energia, sua própria tubulação de água e
esgoto e seu próprio sistema seguro de comunicação. Os funcionários tinham duas
chaves. Uma delas abria uma porta sem identificação no lobby; a outra operava o
elevador. Aqueles que cometiam o pecado imperdoável de perder uma ou ambas eram
banidos para o Deserto da Judeia, e nunca mais se via ou ouvia falar deles.
Como a maior parte dos agentes de campo, Mikhail entrou no prédio pela garagem
subterrânea e subiu até o andar executivo. Como já era tarde — as câmeras de segurança
registraram o horário como nove e meia —, o corredor estava tão silencioso quanto
uma escola sem alunos. Da porta entreaberta no fim do corredor saía um feixe de luz
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1