A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

P


CAFÉ MILANO, GEORGETOWN

or alguns segundos depois da explosão, só houve silêncio. Era o silêncio de uma
cripta, pensou Mikhail, o silêncio da morte. Finalmente, houve um gemido, depois uma
tosse, e então os primeiros gritos de agonia e terror. Logo, haveria muitos outros — os
que ficaram sem membros, os cegos, os que nunca mais conseguiriam se olhar no
espelho. Alguns outros certamente morreriam hoje, mas muitos sobreviveriam. Veriam
de novo seus filhos, dançariam em casamentos e chorariam em enterros. E talvez, um
dia, conseguissem de novo comer em um bom restaurante sem o medo torturante de que
a mulher à mesa ao lado esteja usando um colete suicida. Era o medo com que todos os
israelenses tinham convivido durante os negros dias da Segunda Intifada. E agora, por
causa de um homem chamado Saladin, aquele mesmo medo tinha chegado aos Estados
Unidos.
Mikhail tentou alcançar a maçaneta, mas parou ao ouvir o primeiro tiro. Percebeu
que seu telefone estava vibrando no bolso do casaco. Checou a tela. Era Eli Lavon.
— Onde você está, porra?
Sussurrando, Mikhail explicou.
— Quatro homens armados acabaram de entrar no restaurante.
— Estou ouvindo eles.
— Você precisa sair daí.
— Cadê a Natalie?
— O FBI está prestes a resgatá-la.
Mikhail guardou o telefone de volta no bolso. De trás da porta do lavatório veio
outro tiro — grosso calibre, nível militar. Depois, houve mais dois: crack, crack... A
cada um, outro grito silenciava. Claramente, os terroristas estavam determinados a não
permitir que ninguém saísse vivo do Café Milano. Não eram jihadistas de videogame.
Eram bem-treinados, disciplinados. Estavam caminhando metodicamente entre as ruínas
do restaurante buscando sobreviventes. E a busca, pensou Mikhail, acabaria os levando à
porta do lavatório.
O americano com gel no cabelo estava tremendo de medo. Mikhail procurou por
algo que pudesse usar como arma, mas não viu nada adequado. Então, com um gesto
lateral da cabeça, indicou que o americano se escondesse na cabine. Ele não sabia como,
mas o restaurante ainda tinha energia. Mikhail apagou a luz, abafando o som do
interruptor, e encostou as costas contra a parede ao lado da porta. Na escuridão, jurou
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