A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

O


HUME, VIRGINIA

corpo de Natalie pareceu se liquefazer de medo. Ela apertou o detonador com força,
para que não escorregasse de sua mão e afundasse como uma moeda no fundo de um
poço. Revisou intimamente os elementos de seu curriculum vitae. Era Leila de
Sumayriyya, Leila que amava Ziad. Em uma manifestação na Place de la République,
dissera a um jovem jordaniano chamado Nabil que queria punir o Ocidente por apoiar
Israel. Nabil tinha dado o nome dela a Jalal Nasser, e Jalal a tinha levado a Saladin.
Dentro do movimento jihadista global, uma história como a dela era lugar-comum. Mas
era só isso, uma história e, de alguma forma, Saladin sabia.
Mas sabia há quanto tempo? Desde o começo? Não, pensou Natalie, não era possível.
Os soldados de Saladin nunca teriam permitido que ela ficasse no mesmo cômodo que
ele se desconfiassem de sua deslealdade. Nem teriam colocado o destino dele nas mãos
dela. Tinham confiado a vida de Saladin a Natalie e, para seu arrependimento, ela a tinha
salvado. E, agora, estava diante dele com uma bomba amarrada ao corpo e um
detonador na mão direita. “Não fazemos missões suicidas”, tinha dito Gabriel. “Não
trocamos nossa vida pela deles.” Ela colocou o dedão em cima do botão e, testando a
resistência, apertou levemente. Saladin, observando-a, sorriu.
— Você é muito corajosa, Maimônides — disse ele, em árabe. — Mas eu sempre
soube disso.
Ele colocou a mão no bolso do terno. Natalie, com medo de ele estar pegando uma
arma, apertou mais forte o botão. Mas não era uma arma, era o telefone. Ele tocou a tela
algumas vezes e o aparelho emitiu um chiado agudo. Natalie percebeu, depois de uns
segundos, que o som era água correndo para a pia. A primeira voz que ouviu foi a sua
própria.
— Você sabe quem é aquela mulher?Como ela entrou no país?
— Com um passaporte falso.
— Por onde ela entrou?
— Nova York.
— Kennedy ou Newark?
— Não sei.
— Como ela veio para Washington?
— Em um trem da Amtrak.
— Qual o nome no passaporte?
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