A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Asma Doumaz.
— Você já recebeu um alvo?
— Não. Mas ela recebeu o dela. É uma missão suicida.
— Você sabe o alvo dela?
— Não.
— Foi apresentada a algum outro membro das células de ataque?
— Não.
— Cadê seu telefone?
— Ela pegou. Não tente me mandar nenhuma mensagem.
— Saia daqui.
Com um toque na tela, Saladin silenciou a gravação. Então, olhou para Natalie por
vários segundos insuportáveis. Não havia reprovação nem raiva na expressão dele. Era
o olhar de um profissional.
— Para quem você trabalha? — perguntou ele, enfim, novamente se dirigindo a ela
em árabe.
— Trabalho para você — ela não sabia de que reserva de coragem inútil tinha tirado
essa resposta, mas Saladin pareceu se divertir.
— Você é muito corajosa, Maimônides — repetiu ele. — Corajosa demais para seu
próprio bem.
Ela notou, pela primeira vez, que havia uma televisão no cômodo. Estava ligada na
CNN. Trezentos convidados de vestidos de gala e smokings estavam saindo da Sala Leste
da Casa Branca escoltados pelo Serviço Secreto.
— Uma noite para ficar na memória, não acha? Todos os ataques foram bem-
sucedidos, menos um. O alvo era um restaurante francês onde vários habitantes
importantes de Washington costumam jantar. Por algum motivo, a agente escolheu não
executar sua missão. Em vez disso, entrou em um carro dirigido por uma mulher que
acreditava ser agente do FBI.
Ele pausou para deixar Natalie responder, mas ela permaneceu em silêncio.
— A traição dela não foi ameaça à operação — continuou ele. — Na verdade,
provou-se muito valiosa, porque nos permitiu distrair os americanos durante os últimos
dias críticos da operação. Do objetivo — adicionou, ameaçadoramente. — Você e Safia
eram uma simulação, uma armadilha. Eu sou soldado de Alá, mas admiro muito
Winston Churchill. E foi Churchill quem disse que, na guerra, a verdade é tão preciosa
que sempre deve ser protegida por um guarda-costas de mentiras.
Ele fez esses comentários em direção à tela da televisão. Agora, novamente se virava
para olhar Natalie.
— Mas tinha uma questão que nunca conseguíamos responder satisfatoriamente —
continuou. — Para quem, exatamente, você estava trabalhando? Abu Ahmed supôs que
você era americana, mas não me parecia uma operação americana. Sinceramente, supus
que você efosse britânica, porque, como todos sabemos, os britânicos são os melhores
no trabalho com agentes vivos. Mas acabou também não sendo isso. Você não estava

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