Navot jogou outra foto na mesa, um prédio em ruínas numa rua elegante no centro
de Beirute. Era a Gallerie Mansour, na rue Madame Curie. Membros e cabeças
espalhados pela calçada. Para variar, dessa vez a carnificina não era humana. Era o
magnífico inventário profissional de Clovis.
— Eu tinha esperanças — continuou Navot depois de um momento — de que meus
últimos dias como chefe passariam sem incidentes. Em vez disso, tenho que lidar com a
perda do nosso melhor terceirizado em Beirute e de um informante que levamos muito
tempo e esforço para recrutar.
— Melhor que um agente de campo morto.
— Isso sou eu quem tem que julgar — Navot aceitou as duas fotografias e as
devolveu ao arquivo. — O que Mansour tinha para você?
— O homem por trás de Paris.
— Quem é ele?
— Ele é chamado de Saladin.
— Saladin. Bom — disse Navot, fechando o arquivo —, pelo menos é um começo.
Navot continuou no escritório muito depois de Mikhail pedir licença e sair. A mesa
estava vazia, exceto pelo bloco de notas com capa de couro em que ele rabiscou uma
única palavra. Saladin... Só um homem com muita autoestima usaria um codinome
desses; só um homem com muita ambição. O verdadeiro Saladin tinha unido o mundo
muçulmano sob a dinastia Ayyubid e recapturado Jerusalém dos cruzados. Talvez esse
novo Saladin tivesse as mesmas inclinações. Para sua estreia, ele destruíra um alvo judeu
no meio de Paris, atacando, assim, dois países, duas civilizações, ao mesmo tempo.
Certamente, pensou Navot, o sucesso do ataque só estimulara seu apetite pelo sangue de
infiéis. Era uma questão de tempo até ele atacar novamente.
Por enquanto, Saladin era um problema francês. Mas o fato de quatro cidadãos
israelenses terem morrido no ataque dava a Navot uma posição em Paris, bem como o
nome que Clovis Mansour sussurrara no ouvido de Mikhail em Beirute. Aliás, com um
pouco de lábia, só o nome já poderia ser suficiente para garantir que o Escritório tivesse
um lugar na mesa de operações. Navot confiava em seus poderes de persuasão. Ex-
agente de campo e recrutador de espiões, ele tinha a habilidade de transformar palha em
ouro. A questão era: quem cuidaria dos interesses do Escritório em uma missão franco-
israelense? Navot só tinha um candidato em mente, um agente de campo lendário que
realizava operações em solo francês desde que era um garoto de 20 e dois anos. Além
disso, o agente em questão havia conhecido Hannah Weinberg pessoalmente.
Infelizmente, o primeiro-ministro tinha outros planos para ele. Navot checou o horário;
eram dez e quinze. Ele alcançou o telefone e ligou para o departamento de viagens.