A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

E


HUME, VIRGINIA

la não teria direito a julgamento, pois não era necessário; ao apertar o botão
detonador, tinha admitido sua culpa. Havia apenas a questão da confissão, que seria
gravada para a disseminação nas múltiplas plataformas de propaganda do ISIS, e da
execução, que seria por decapitação. Tudo podia ter sido concluído muito rapidamente,
se não fosse pelo próprio Saladin. O breve atraso não era, de forma alguma, um ato de
misericórdia. Saladin ainda era um espião, no fundo. E o que um espião mais deseja não
é sangue, mas informação. O sucesso dos atentados em Washington e a expectativa da
morte iminente de Natalie tinham tido o efeito de soltar a língua dele. Admitiu que, sim,
tinha servido no Mukhabarat iraquiano sob o governo de Saddam Hussein. Sua tarefa
principal, explicou, era fornecer apoio material e logístico a grupos terroristas palestinos,
em especial aqueles que rejeitavam absolutamente a existência de um Estado judeu no
Oriente Médio. Durante a Segunda Intifada, ele cuidara do pagamento de benefícios
lucrativos às famílias de homens-bomba palestinos mortos em ação. Abu Nidal,
orgulhava-se, era seu amigo próximo. Aliás, tinha sido Abu Nidal, o mais cruel dentre
os chamados terroristas rejeicionistas, que dera o codinome a Saladin.
Seu trabalho exigia que ele se tornasse um tipo de especialista no serviço secreto de
inteligência israelense. Ele desenvolveu uma admiração rancorosa pelo Escritório e por
Ari Shamron, mestre espião que o chefiou, entre idas e vindas, por quase trinta anos.
Também passou a admirar as conquistas do famoso pupilo de Shamron, o lendário
assassino e agente chamado Gabriel Allon.
— Então, imagine minha surpresa — disse ele a Natalie — quando o vi cruzando o
lobby do Four Seasons Hotel em Washington, e quando ouvi você falando o nome dele.
Depois de completar sua introdução, ele começou a interrogar Natalie sobre cada
aspecto da operação — a vida dela antes de se juntar à inteligência israelense, seu
recrutamento, seu treinamento, sua inserção no campo. Sabendo que logo seria
decapitada, Natalie não tinha motivo para cooperar a não ser atrasar, em alguns minutos,
sua inevitável morte. Era motivo suficiente, pois ela sabia que seu desaparecimento não
tinha passado em branco. Saladin, com a curiosidade de um espião, deu a ela a
oportunidade de deixar alguns grãos de areia caírem pela ampulheta. Começou
perguntando o nome verdadeiro dela. Ela resistiu durante preciosos minutos, até que,
em um ataque de fúria, ele ameaçou arrancar a carne dos ossos dela com a mesma faca
que usaria para cortar a cabeça.
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