A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

Street, como se o grande Gabriel Allon, com sua infinita lista de inimigos mortais, fosse
ousar comer em público. Havia também um relato de que, como Paul Rousseau, ele
estava dentro do Centro Nacional de Contraterrorismo no momento do atentado. O
embaixador de Israel, que quase nunca ficava sem palavras, não retornou ligações nem
mensagens de texto, bem como sua porta-voz. Ninguém nem tentou pedir comentários
do CNC. Seu assessor de imprensa tinha morrido no atentado, bem como seu diretor.
Para todos os efeitos, não havia mais CNC.
E ali poderia ter morrido a questão, se não fosse uma repórter investigativa do The
Washington Post. Muitos anos antes, pouco depois do 11 de Setembro, ela tinha revelado a
existência de uma cadeia de centros de detenção da CIA — as chamadas prisões secretas
— onde terroristas do grupo al-Qaeda eram sujeitos a interrogatórios violentos. Agora,
procurava responder a muitas questões em torno do atentado a Washington. Quem era a
dra. Leila Hadawi? Quem tinha matado os quatro terroristas no Café Milano e os cinco
terroristas no chalé em Hume? E por que um homem considerado morto, uma lenda,
estaria dentro do CNC quando um caminhão-bomba de quinhentos quilos explodiu?
A matéria da repórter saiu exatamente uma semana depois do atentado. Dizia que a
mulher conhecida como dra. Leila Hadawi era, na verdade, uma agente do serviço
secreto de inteligência de Israel que conseguira se infiltrar na rede de um misterioso
mentor terrorista chamado Saladin. Ele estivera em Washington durante o atentado, mas
conseguira escapar. Agora, supostamente, estava de volta ao califado, escondendo-se do
bombardeio aéreo americano e da coalizão. Gabriel Allon, escreveu ela, também estava se
escondendo — e bastante vivo. Ao ser questionado, o primeiro-ministro de Israel só
conseguiu dar um sorriso amarelo. Então, misterioso, sugeriu que teria mais a dizer
sobre o assunto em breve. Muito em breve.


No antigo bairro de Nachlaot, em Jerusalém, há muito pairavam dúvidas sobre as
circunstâncias da morte de Allon, especialmente na arborizada rua Narkiss, onde se sabia
que ele havia morado em um prédio residencial de calcário com uma árvore de eucalipto
no jardim da frente. Na noite em que a matéria saiu no site do The Washington Post, ele e
sua família foram vistos jantando no Focaccia, na rua Akiva — ou assim dizia o casal
sentado à mesa ao lado. Allon, alegaram, tinha pedido fígado de galinha e purê de
batatas; já sua esposa, italiana de nascimento, optara por uma massa. As crianças, a
algumas semanas de completar seu primeiro aniversário, tinham se comportado
exemplarmente. Mãe e pai pareciam relaxados e felizes, embora seus guarda-costas
estivessem claramente alarmados. Toda a cidade estava. Naquela mesma tarde, perto do
Portão de Damasco, três judeus tinham morrido esfaqueados. A polícia tinha atirado
várias vezes no assassino, um jovem palestino de Jerusalém Oriental que morreu na

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