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MUSEU DE ISRAEL, JERUSALÉM
o canto mais afastado do laboratório de conservação e restauro, uma cortina preta se
estendia do teto branco até o chão. Atrás dela estava um par de cavaletes italianos de
carvalho, duas lâmpadas halógenas, uma câmera Nikon montada em cima de um tripé,
uma paleta, um pequeno fardo de algodão, um antigo CD player manchado com várias
cores diferentes de tinta e um carrinho de mão cheio de pigmentos, líquidos para
aplicação de pigmentos secos, solventes, cavilhas de madeira e vários pincéis de cerdas
de zibelina Winsor & Newton Série 7. Durante a maior parte dos últimos quatro meses,
o restaurador trabalhou ali sozinho, às vezes tarde da noite, às vezes bem antes do
amanhecer. Ele não usava credencial do museu, pois seu local de trabalho verdadeiro era
outro. A equipe de conservadores tinha sido avisada para não mencionar a presença dele
nem falar seu nome. Também não se podia discutir a grande pintura apoiada nos
cavaletes, um retábulo de um velho mestre italiano. O quadro, como o restaurador, tinha
um passado perigoso e trágico.
O homem tinha altura menor que a média — 1,73 metro, talvez, não mais — e era
esguio. Tinha a testa alta e o queixo estreito, com maçãs do rosto largas e proeminentes e
o nariz longo e ossudo, que parecia ter sido talhado em madeira. O cabelo escuro era
cortado curto e manchado de cinza nas têmporas, os olhos tinham um tom anormal de
verde. A idade dele era um dos segredos mais bem guardados de Israel. Há não muito
tempo, quando seu obituário aparecera em jornais do mundo todo, nenhuma data de
nascimento confiável chegara às páginas. Os relatos de sua morte tinham sido parte de
uma operação elaborada para enganar seus inimigos em Moscou e Teerã. Eles tinham
acreditado na história, um erro de cálculo que permitiu que o restaurador se vingasse
deles. Pouco depois de seu retorno a Jerusalém, sua esposa deu à luz um casal de
gêmeos: a menina foi chamada Irene, em homenagem à mãe dele, e o menino, Raphael.
Eram, agora — mãe, filha, filho —, três das pessoas mais bem protegidas do Estado de
Israel. O restaurador também. Ele ia e vinha em uma SUV blindada de fabricação
americana, acompanhado por um guarda-costas com olhos de corça que já matara vinte e