Mikhail esperou quase uma semana antes de aparecer pela primeira vez na fazenda. A
demora não era ideia dele; os médicos tinham medo de que sua presença pudesse
complicar ainda mais a já complicada recuperação de Natalie. Sua primeira visita foi
breve, pouco mais de uma hora, e inteiramente profissional, exceto por uma conversa
íntima no jardim enluarado, o que escapou aos ouvidos aguçados dos microfones.
Na noite seguinte, assistiram a um filme — francês, com legendas em hebraico —, e
na noite seguinte, com a aprovação de Uzi Navot, saíram para comer pizza em Cesareia.
Depois disso, enquanto caminhavam pelas ruínas romanas, Mikhail contou para Natalie
sobre os piores minutos de sua vida. Tinham ocorrido, curiosamente, em sua terra natal,
em uma casa de campo, uma datcha a muitos quilômetros de Moscou. Uma operação de
resgate de reféns tinha dado errado, ele e dois outros agentes estavam prestes a ser
mortos. Mas outro homem trocou a vida pela deles, e os três sobreviveram. Uma das
agentes recentemente tinha dado à luz um casal de gêmeos. E o outro, disse ele em tom
nefasto, logo seria chefe do Escritório.
— O Gabriel?
Ele assentiu suavemente.
— E a mulher?
— Era a esposa dele.
— Meu Deus — caminharam em silêncio por um momento. — Então, qual é a
moral dessa história horrível?
— Não tem moral — respondeu Mikhail. — É só o que fazemos. E depois tentamos
esquecer.
— Você já conseguiu esquecer?
— Não.
— Pensa muito nisso?
— Toda noite.
— Acho que você estava certo, afinal — falou Natalie, depois de um momento.
— Sobre o quê?
— Sou mais parecida com você do que imagino.
— Agora, é.
Ela pegou a mão dele.
— Quando? — sussurrou ela no ouvido de Mikhail.
— Isso — disse Mikhail, sorrindo — é uma decisão completamente sua.
Na tarde seguinte, quando Natalie voltou de sua corrida pelo vale, encontrou Gabriel