O
PETAH TIKVA, ISRAEL
fim estava próximo, era óbvio. Na quinta-feira, Uzi Navot foi visto carregando várias
caixas de papelão de seu escritório, incluindo um estoque vitalício de seus amados
biscoitos amanteigados, um presente de despedida do diretor baseado em Viena. No dia
seguinte, durante a reunião de equipe sênior das nove da manhã, ele agiu como se um
grande peso tivesse sido tirado de seus ombros robustos. E naquela tarde, antes de sair
para o fim de semana, passeou lentamente pelo boulevard Rei Saul, do último andar aos
retiros subterrâneos do Arquivo, apertando mãos, dando tapinhas em ombros e
beijando algumas bochechas úmidas. Curiosamente, evitou a cova escura e proibitiva
ocupada pela equipe de Recursos Humanos, lugar onde carreiras eram enterradas.
Navot passou o sábado atrás das paredes de sua casa no subúrbio de Petah Tikva,
em Tel Aviv. Gabriel sabia disso porque os movimentos do ramsad, abreviação oficial
para designar o chefe do Escritório, eram monitorados constantemente pela mesa de
operações, como também eram os seus. Ele decidiu que era melhor aparecer sem avisar,
preservando, assim, o elemento-surpresa. Desceu de sua SUV oficial em meio a uma
tempestade e apertou o botão do interfone no portão de entrada. Vinte segundos longos
e molhados se passaram antes de uma voz atender. Infelizmente, era Bella.
— O que você quer?
— Preciso dar uma palavrinha com o Uzi.
— Já não fez o suficiente?
— Por favor, Bella. É importante.
— Sempre é.
Outra demora prolongada se seguiu antes de as travas abrirem com um estalo
inóspito. Gabriel abriu o portão e correu pelo caminho do jardim até a entrada, onde
Bella o esperava. Ela estava usando um terninho coloquial de seda bordada e sandálias
douradas. O cabelo tinha acabado de ser feito, e a maquiagem no rosto estava discreta,
mas inteiramente feita. Ela parecia estar dando uma festa. Sempre parecia. As aparências
sempre tinham sido importantes para Bella, e por isso Gabriel nunca entendera a decisão
dela de se casar com um homem como Uzi Navot. Talvez, pensou, ela o tivesse feito
simplesmente por crueldade. Gabriel sempre tinha achado que Bella parecia o tipo de
pessoa que gostava de arrancar asas de moscas.
Friamente, ela apertou a mão de Gabriel. Suas unhas eram vermelho-sangue.
— Você parece muito bem, Bella.