cinco pessoas e ficava sentado do lado de fora do laboratório sempre que o restaurador
estava presente.
A aparição dele no museu, em uma quarta-feira escura e úmida de dezembro, poucos
dias antes do nascimento de seus filhos, fora um choque — e um profundo alívio —
para o resto da equipe de conservação. Todos tinham sido avisados de que o restaurador
não gostava de ser observado enquanto trabalhava. Ainda assim, frequentemente
colocavam a cabeça através da pequena gruta formada pela cortina só para ver de relance
o retábulo com seus próprios olhos. Verdade seja dita, não dava para culpá-los. A
pintura, Natividade com São Francisco e São Lourenço, era possivelmente a obra de arte
desaparecida mais famosa do mundo. Roubada do Oratorio di San Lorenzo, em
Palermo, em outubro de 1969, ela estava agora formalmente na posse do Vaticano. A
Santa Sé decidira sabiamente adiar a notícia da recuperação do quadro até que a
restauração estivesse finalizada. Como muitos dos anúncios do Vaticano, a versão oficial
dos acontecimentos tinha pouca semelhança com a verdade. Não mencionava o fato de
que um lendário agente de inteligência israelense chamado Gabriel Allon achara o
quadro pendurado em uma igreja na cidade de Brienno, no norte da Itália. Nem
mencionava que o mesmo lendário agente de inteligência tinha sido incumbido da tarefa
de restaurá-la.
Durante sua longa carreira, ele executara diversas restaurações incomuns — certa vez
reparara um retrato de Rembrandt rasgado por uma bala —, mas o retábulo de
Caravaggio apoiado em seus cavaletes era, sem dúvida, a tela mais danificada que ele já
havia visto. Pouco se sabia sobre sua longa jornada do Oratorio di San Lorenzo para a
igreja onde Gabriel a encontrara. As histórias, porém, eram inúmeras. O quadro tinha
sido guardado por um chefe da máfia como prêmio e exibido em reuniões importantes
de seus asseclas. Tinha sido comido por ratos, danificado em uma enchente e queimado
em um incêndio. Gabriel só tinha certeza de uma coisa: os ferimentos da pintura, embora
graves, não eram fatais. Mas Ephraim Cohen, chefe de conservação e restauro do museu,
tinha suas dúvidas. Ao ver o quadro pela primeira vez, aconselhou que Gabriel
ministrasse a extrema unção e devolvesse o retábulo ao Vaticano no mesmo caixão de
madeira em que tinha chegado.
— Homem de pouca fé — dissera Gabriel.
— Não — respondera Cohen. — Homem de talento limitado.
Cohen, como os outros membros da equipe, ouvira as histórias — as histórias de
prazos perdidos, de encomendas abandonadas, de reaberturas de igreja adiadas. O ritmo
de tartaruga dos hábitos de trabalho de Gabriel era lendário, quase tanto quanto suas
proezas nos campos de batalha secretos da Europa e do Oriente Médio. Mas todos logo
descobriram que a lentidão era voluntária, não instintiva. A arte da restauração, explicou
ele a Cohen uma noite, enquanto agilmente reparava a dilacerada face de são Francisco,
era um pouco como fazer amor: melhor quando feito lentamente e com atenção aos
mínimos detalhes, com pausas ocasionais para descanso e hidratação. Mas, em último
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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