A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

todas as pessoas ali irromperam em uma versão barulhenta do Parabéns pra você, Irene
chorou histericamente. Então, Shamron sussurrou um pouco de bobagens em sotaque
polonês no ouvido dela, que passou a rir com gosto.
Às dez da noite, os primeiros carros estavam saindo lentamente da entrada, e à meia-
noite a festa acabou. Depois, Shamron e Gabriel se sentaram no lugar de sempre no
canto do terraço, um aquecedor a gás ligado entre eles, enquanto os fornecedores do
bufê limpavam o que restou da da comemoração. Shamron evitou fumar porque Raphael
estava dormindo profundamente nos braços de Gabriel.
— Você impressionou muito as pessoas no anúncio hoje — disse Shamron. —
Gostei da sua roupa. E do seu título.
— Quis passar um recado.
— E que recado é esse?
— Que pretendo ser um chefe operacional. — Gabriel pausou, então completou: —
Que dá para andar e mascar chiclete ao mesmo tempo.
Com o olhar nas Colinas de Golã, Shamron disse:
— Acho que você não tem muita escolha.
O garoto se mexeu nos braços de Gabriel e então caiu no sono novamente. Shamron
girou seu velho isqueiro Zippo nas pontas dos dedos. Duas voltas para a direita, duas
voltas para a esquerda...
— É assim que você acha que vai acabar? — perguntou, depois de um momento.
— Como eu acho que o que vai acabar?
— Eu e você — Shamron olhou para Gabriel e completou: — Nós.
— Do que você está falando, Ari?
— Eu estou velho, meu filho. Estive me segurando para não morrer antes desta
noite. Agora que acabou, posso ir — ele sorriu tristemente. — Está tarde, Gabriel.
Estou muito cansado.
— Você não vai a lugar nenhum, Ari. Preciso de você.
— Não precisa, não — respondeu Shamron. — Você é eu.
— Engraçado ter acontecido assim.
— Você parece pensar que foi um acaso. Mas não foi. Era tudo parte de um plano.
— Plano de quem?
— Talvez fosse meu, talvez fosse de Deus — Shamron deu de ombros. — Que
diferença faz? Estamos do mesmo lado no que diz respeito a você, eu e Deus. Somos
cúmplices.
— Quem tem a palavra final?
— Quem você acha? — Shamron colocou sua mão enorme sobre Raphael. —
Lembra o dia em que fui buscar você em Cornwall?
— Como se fosse ontem.
— Você dirigiu que nem um louco pelas cercas-vivas da península. Comemos
omeletes em um pequeno café no topo das Colinas. Você me tratou — Shamron
completou, com uma ponta de amargura — como um cobrador de dívidas.

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