Não seja pego...
Ele tinha reservado uma rota tortuosa para a terra prometida do islã: uma balsa para a
Holanda, um trem para Berlim, um voo barato para Sofia, um calhambeque alugado
para levá-lo à Turquia. Passou seu último dia em Londres da mesma forma que passara
os cem dias anteriores, aparentemente alheio ao fato de que estava mais queimado que
carvão. Fez compras na Oxford Street, vagueou pela Leicester Square, rezou na mesquita
de East London. Depois, tomou chá com um recruta em potencial. Gabriel encaminhou
o nome do recruta a Amanda Wallace. Era o mínimo que podia fazer, pensou.
Naquela noite, Jalal fez as malas e limpou os computadores. Nesse ponto, as câmeras
e os microfones já tinham sido tirados de seu apartamento em Chilton Street, dando à
equipe a única opção de observá-lo como antigamente, com binóculos e uma câmera
com lente telefoto. De longe, ele parecia um homem totalmente despreocupado. Talvez
fosse uma performance. Mas a explicação mais provável era que Saladin não tinha
informado seu agente de que os britânicos, os americanos, os israelenses e os
jordanianos sabiam de sua ligação com a rede e com os atentados em Paris, Amsterdã e
Washington. No boulevard Rei Saul — e em Langley, em Vauxhall Cross e num prédio
antigo elegante na rue de Grenelle —, isso era visto como um sinal positivo. Significava
que Jalal não tinha segredos para divulgar, que a rede, pelo menos por agora, estava
dormente. Para Jalal, porém, significava que ele era descartável, que é a pior coisa que
um terrorista pode ser quando seu mestre é alguém como Saladin.
Às sete daquela noite, o jordaniano esticou um colchão no chão de sua sala minúscula
e rezou pela última vez. Então, às dezenove e vinte, ele foi até o Noodle King na Bethnal
Green Road, onde, sozinho, comeu uma última refeição de arroz frito e asinhas de
frango picantes, observado por Eli Lavon. Ao sair do restaurante, ele passou no Saver
Plus para comprar uma garrafa de leite e então foi em direção a seu apartamento, sem
saber que Mikhail estava alguns passos atrás dele.
Mais tarde, a Scotland Yard determinaria que Jalal chegara à sua porta doze minutos
depois das oito. Determinaria ainda que, enquanto procurava as chaves no bolso do
casaco, derrubou-as no chão. Ao agachar, notou Mikhail parado na rua. Deixou as
chaves onde estavam e, lentamente, se levantou. Estava segurando a sacola de compras
defensivamente em frente ao peito.
— Olá, Jalal — disse Mikhail, calmamente. — É tão bom conhecê-lo finalmente.
— Quem é você? — perguntou o jordaniano.
— Sou a última pessoa que você vai ver na vida.
Ágil, Mikhail tirou a arma das costas, uma Beretta calibre .22. Não havia silenciador.
Era uma arma naturalmente silenciosa.