seis terroristas com uma pistola Beretta .22. Sempre que possível, atirava em suas vítimas
onze vezes — uma bala para cada judeu assassinado. Quando finalmente voltou a Israel,
o estresse e a exaustão tinham deixado suas têmporas grisalhas. Shamron as chamou de
manchas de cinzas do príncipe no fogo.
A intenção de Gabriel era retomar sua carreira como artista, mas cada vez que ficava
em frente a uma tela só via os rostos dos homens que matara. Assim, com a bênção de
Shamron, viajou a Veneza como um italiano expatriado chamado Mario Delvecchio para
estudar restauração. Quando seu aprendizado estava completo, voltou ao Escritório e
aos braços abertos de Ari Shamron. Posando como restaurador de arte talentoso, ainda
que taciturno, ele eliminou alguns dos inimigos mais perigosos de Israel — incluindo
Abu Jihad, o talentoso vice de Yasir Arafat, que matara na frente de sua mulher e de seus
filhos em Tunis. Arafat devolveu o favor ordenando que um terrorista colocasse uma
bomba embaixo do carro de Gabriel em Viena. A explosão matou seu filho pequeno,
Daniel, e feriu seriamente Leah, sua primeira esposa. Ela agora morava em um hospital
psiquiátrico do outro lado da cordilheira de Ma’ale Hahamisha, trancada em uma prisão
de memórias e em um corpo destruído pelo fogo. O hospital ficava no antigo vilarejo
árabe de Deir Yassin, onde combatentes judeus das organizações paramilitares Irgun e
Lehi haviam massacrado mais de cem palestinos na noite de 9 de abril de 1948. Era uma
ironia cruel que a destroçada esposa do anjo de vingança de Israel morasse entre os
fantasmas de Deir Yassin, mas assim era a vida na Terra Duas Vezes Prometida. Era
impossível escapar do passado. Árabes e judeus estavam unidos pelo ódio, pelo sangue e
pela condição de vítimas. E, como punição, seriam obrigados a viver juntos como
vizinhos inimigos por toda a eternidade.
Os anos seguintes ao bombardeio em Viena foram, para Gabriel, anos perdidos. Ele
viveu como um ermitão em Cornwall, vagou pela Europa silenciosamente, restaurando
pinturas, e tentou esquecer. Por fim, Shamron o chamou novamente, e o laço entre
Gabriel e o Escritório foi renovado. Agindo a mando de seu mentor, ele executou
algumas das operações mais bem-sucedidas da história da inteligência israelense. Sua
carreira era o modelo segundo o qual todas as outras seriam medidas, especialmente a de
Uzi Navot. Como os árabes e os judeus da Palestina, Gabriel e Navot estavam
inextricavelmente atados. Eram os filhos de Ari Shamron, os confiáveis herdeiros do
serviço que este construíra e cultivara. Gabriel, o filho mais velho, tinha certeza do amor
do pai, mas Navot sempre lutara para conseguir sua aprovação. Ganhara o emprego de
chefe só porque Gabriel recusara esse posto. Agora, casado outra vez, pai novamente,
Gabriel finalmente estava pronto para assumir seu lugar de direito na suíte executiva do
boulevard Rei Saul. Para Uzi Navot, era uma nakba, palavra usada pelos árabes para
descrever a catástrofe de sua fuga da terra da Palestina.
O antigo hotel em Ma’ale Hahamisha ficava a menos de dois quilômetros da fronteira
de 1967, e de seu restaurante no terraço era possível ver as luzes amarelas enfileiradas dos
assentamentos judeus esparramados morro abaixo até a Cisjordânia. O terraço estava
escuro, exceto por algumas poucas velas açoitadas pelo vento tremulando fracamente.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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