Navot estava sentado sozinho em um canto distante, o mesmo lugar em que Shamron
tinha esperado naquela tarde de setembro de 1972. Gabriel sentou ao lado dele e levantou
o colarinho de sua jaqueta de couro para se proteger do frio. Navot estava em silêncio.
Olhava para baixo em direção às luzes de Har Adar, o primeiro assentamento israelense
para lá da Linha Verde.
— Mazel tov — disse, enfim.
— Pelo quê?
— A pintura — disse Navot. — Ouvi dizer que está quase terminada.
— Onde você ouviu uma coisa dessas?
— Estive monitorando seu progresso. O primeiro-ministro também — Navot
examinou Gabriel através de seus pequenos óculos sem aro. — Está pronto mesmo?
— Acho que sim.
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que quero olhar mais uma vez pela manhã. Se gostar do que vir, vou
aplicar uma camada de verniz e mandar de volta para o Vaticano.
— E só dez dias depois do prazo.
— Na verdade, 11. Mas quem está contando?
— Eu estava — Navot deu um sorriso triste. — Gostei da folga, ainda que breve.
Um silêncio desceu sobre eles. A conversa estava longe de ser amigável.
— Caso você tenha esquecido — disse Navot, enfim —, é hora de assinar seu novo
contrato e se mudar para o meu escritório. Na verdade, eu estava planejando empacotar
minhas coisas hoje, mas tive que fazer uma última viagem como chefe.
— Para onde?
— Eu tinha uma informação que precisava compartilhar com nossos irmãos
franceses sobre o atentado ao Centro Weinberg. Também queria garantir que eles
estivessem perseguindo os culpados com o vigor apropriado. Afinal, cidadãos
israelenses foram mortos, sem falar em uma mulher que certa vez fez um favor bem
grande para o Escritório.
— Eles sabem da nossa ligação com ela?
— Os franceses?
— É, Uzi, os franceses.
— Mandei uma equipe ao apartamento dela para dar uma olhada depois do ataque.
— E?
— A equipe não encontrou nenhuma menção a certo oficial de inteligência israelense
que uma vez tomou emprestado o Van Gogh dela para encontrar um terrorista. Também
não havia referência a certo Zizi al-Bakari, gerente de investimentos da Casa de Saud e
CEO da Jihad, Incorporated. — Navot fez uma pausa, e então continuou: — Que
descanse em paz.
— E o quadro?
— Estava no lugar de sempre. Pensando bem, a equipe devia tê-lo levado embora.
— Por quê?
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1