A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

Ela era jovem demais para ele, e ele era velho demais para ser pai de novo — ou
assim pensava até o momento que seus dois filhos, primeiro Raphael e depois Irene,
saíram em um borrão do corte no útero de Chiara. Instantaneamente, tudo o que viera
antes passou a parecer paradas em uma viagem até esse local: o bombardeio em Viena, os
anos de exílio autoimposto, o longo dilema hamletiano sobre se era apropriado que ele
se cassasse e começasse uma nova família. A sombra de Leah sempre pairaria sobre
aquela pequena casa no coração de Jerusalém, e o rosto de Daniel sempre olharia por
seus meios-irmãos de seu posto divino na parede do quarto. Mas, depois de anos
vagando no deserto, Gabriel Allon, o eterno estranho, o filho perdido de Ari Shamron,
estava finalmente de volta a casa. Ele bebeu mais do syrah cor de sangue e tentou compor
as palavras que usaria para contar a Chiara que estava indo para Paris porque uma
mulher que ela nunca tinha conhecido deixara para ele um quadro de Van Gogh que
valia mais de cem milhões de dólares. A mulher, como muitas outras que ele conhecera
em sua jornada, estava morta. E Gabriel encontraria o homem responsável.
Ele é chamado de Saladin...
Chiara colocou um dedo sobre os lábios. Então, levantando-se, carregou Raphael
para o quarto. Voltou um momento depois e tirou a taça de vinho da mão de Gabriel.
Levando-a ao nariz, respirou profundamente seu rico aroma, mas não bebeu.
— Não vai fazer mal para eles se você der um golinho.
— Em breve — ela devolveu a taça a Gabriel. — Terminou o quadro?
— Sim — respondeu ele. — Acho que sim.
— Que bom — ela sorriu. — E agora?


— Você pensou na possibilidade — perguntou Chiara — de ser tudo uma trama
elaborada por Uzi para ficar com o emprego um pouco mais?
— Pensei.
— E?
— Ele jura que foi ideia do Paul Rousseau.
Cética, Chiara misturou a manteiga e o parmesão ao risoto. Com uma colher,
distribuiu o arroz em dois pratos e, em cada um, adicionou um pedaço grosso de
ossobuco à milanesa.
— Mais caldo — disse Gabriel. — Eu gosto do caldo.
— Não é um ensopado, meu bem.
Gabriel arrancou um pedaço de pão e passou no fundo da caçarola.
— Plebeu — provocou Chiara.
— Venho de uma longa linhagem de plebeus.
— Você? Você é o mais burguês de todos.

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