— Por que você acha que ela decidiu deixá-lo para você?
— Porque sabia que eu nunca faria nenhuma besteira com ele.
— Tipo o quê?
— Colocar à venda.
Chiara fez uma careta.
— Nem pense nisso.
— Podemos sonhar, não?
— Só sobre ossobuco e risoto.
Levantando-se, Gabriel foi ao balcão e serviu a si mais uma porção. Depois, jogou
caldo no arroz e na carne até o prato correr o risco de transbordar. Às suas costas,
Chiara soltou um ruído de desaprovação.
— Tem mais uma coisa — disse ele, com um gesto em direção à caçarola.
— Ainda tenho que perder mais cinco quilos.
— Gosto de você desse jeito.
— Falou como um verdadeiro marido italiano.
— Não sou italiano.
— Em que língua está conversando comigo agora?
— É a comida falando.
Gabriel sentou-se novamente e atacou a vitela. Do monitor, veio o choro curto de
um bebê. Chiara encostou um ouvido vigilante no aparelho e ouviu atentamente, como
se estivesse prestando atenção aos passos de um intruso. Então, após um intervalo de
silêncio satisfatório, ela relaxou de novo.
— Então, você pretende pegar o caso, é isso que está dizendo?
— Estou tendendo a isso — respondeu Gabriel, prudentemente.
Chiara balançou lentamente a cabeça.
— O que eu fiz agora?
— Você faz qualquer coisa para evitar assumir o Escritório, né?
— Qualquer coisa, não.
— Liderar uma operação não é exatamente um emprego em que você possa bater
cartão.
— Liderar o Escritório também não é.
— Mas o Escritório é em Tel Aviv; a operação é em Paris.
— Paris está a quatro horas de avião.
— Quatro e meia — corrigiu ela.
— Além disso — continuou Gabriel —, só porque a operação começa em Paris, não
quer dizer que vai terminar lá.
— Vai terminar onde?
Gabriel inclinou a cabeça à esquerda.
— No apartamento da senhora Lieberman?
— Na Síria.
— Já esteve lá?
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1