A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Só em Majdal Shams.
— Não me diga.
Majdal Shams era uma cidade drusa[*] nas Colinas de Golã. Em sua fronteira norte,
havia uma cerca com espirais de arame farpado em cima, e para além da cerca estava a
Síria. Jabhat al-Nusra, uma afiliada do grupo al-Qaeda, controlava o território na
fronteira, mas a duas horas de carro para o nordeste estavam o ISIS e o califado. Gabriel
imaginava como o presidente americano se sentiria se o ISIS estivesse a duas horas de
Indiana.
— Achei — disse Chiara — que fôssemos ficar de fora da guerra civil síria. Achei
que fôssemos sentar e não fazer nada enquanto nossos inimigos se matavam.
— O próximo chefe do Escritório acha que essa política não seria inteligente em
longo prazo.
— Acha, é?
— Já ouviu falar de um homem chamado Arnold Toynbee?
— Eu tenho um mestrado em história. Toynbee era um historiador e economista
britânico, um dos grandes de sua época.
— E Toynbee — disse Gabriel — acreditava que havia dois grandes eixos no
mundo que influenciavam acontecimentos muito além de suas fronteiras. Um era a bacia
dos rios Amu Dária e Sir Dária, no atual Paquistão, ou Af-Pak, como gostam de chamar
nossos amigos americanos.
— E o outro?
Novamente, Gabriel inclinou a cabeça à esquerda.
— Esperávamos que os problemas com a Síria ficassem na Síria, mas infelizmente
esperança não é uma estratégia aceitável de segurança nacional. Enquanto ficamos sem
fazer nada, o ISIS estava construindo uma sofisticada rede de terror com a capacidade de
atacar o coração do Ocidente. Talvez ela seja liderada por um homem que se intitula
Saladin; talvez por outra pessoa. De qualquer forma, vou destroçar a rede, de preferência
antes de eles conseguirem atacar de novo.
Chiara começou a responder, mas foi interrompida pelo choro de um bebê. Era
Irene; seu grito de duas notas era tão familiar para Gabriel quanto o som de uma sirene
francesa em uma noite úmida de Paris. Ele começou a se levantar, mas Chiara já estava
de pé.
— Termine seu jantar — disse ela. — Ouvi dizer que a comida em Paris é horrível.
Gabriel ouviu a voz dela no monitor, falando suavemente em italiano com um bebê
que já não chorava. Sozinho, ele ligou a televisão e terminou de jantar enquanto, a
quatro horas e meia a noroeste por avião, Paris queimava.

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