A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

dirigiu diretamente ao centro de Paris seguido por um segundo carro, no qual
Bouchard era o único passageiro. Ele tinha previsto que suas presas iriam direto para o
apartamento de madame Weinberg na rue Pavée, onde Paul Rousseau estava esperando
no momento. Em vez disso, a lenda fez uma parada na rue des Rosiers. No extremo
oeste da rua havia uma barricada e, atrás, as ruínas do Centro Weinberg.
Pelo relógio de Bouchard, o israelense permaneceu na barricada por três minutos.
Então, caminhou pela rua na direção leste, seguido por seu guarda-costas. Depois de
alguns passos, parou numa vitrine — um truque rudimentar, mas eficaz de espionagem
que fez Bouchard, que o seguia discretamente, ter de se refugiar na loja em frente. No
mesmo instante, um vendedor insistente encostou nele; quando Bouchard conseguiu se
desvencilhar, o israelense e seu guarda-costas tinham desaparecido. Bouchard ficou
paralisado por um momento, olhando para cima e para baixo da rua. Então, virou-se e
viu o israelense parado atrás dele, com uma mão no queixo e a cabeça inclinada para o
lado.
— Cadê seu aviso? — ele perguntou, finalmente, em francês.
— Meu o quê?
— Seu aviso. Aquele que você estava segurando no aeroporto — Os olhos verdes o
examinaram. — Você deve ser Christian Bouchard.
— E você deve ser...
— Devo ser — interrompeu, com a dureza de um martelo. — E me garantiram que
não haveria vigilância.
— Eu não estava vigiando você.
— Então estava fazendo o quê?
— Rousseau me pediu para garantir que você chegasse em segurança.
— Você está aqui para me proteger, é isso que está dizendo?
Bouchard ficou em silêncio.
— Permita-me deixar uma coisa clara desde o começo — disse a lenda. — Não
preciso de proteção.


Eles andaram lado a lado pela calçada — Bouchard com seu terno e sua capa de chuva;
Gabriel com sua jaqueta de couro e sua tristeza — até chegarem à entrada do
apartamento no número 24. Quando Bouchard abriu a porta externa, abriu
inadvertidamente uma porta para a memória de Gabriel também. Era dez anos atrás,
começo da noite, uma chuva leve caía do céu. Gabriel viera a Paris porque precisava de
um Van Gogh como isca para infiltrar um agente na comitiva de Zizi al-Bakari, e, por
meio de um velho amigo em Londres, um marchand excepcionalmente excêntrico
chamado Julian Isherwood, ele ficara sabendo que Hannah Weinberg possuía um. Ele a

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