país: os relatórios de observação, as interceptações de e-mail e telefone, os registros de
imigração. Só isso, admitiria ele muito depois, já tinha valido o preço da sua estadia na
França.
Houve obstáculos no caminho, mas, em sua maior parte, as negociações foram mais
simples do que Gabriel ou Rousseau poderiam ter imaginado. Talvez porque os dois
não fossem tão diferentes. Eram homens das artes, homens de cultura e estudo que
tinham devotado suas vidas a proteger seus concidadãos daqueles que derramavam o
sangue de inocentes por ideologia ou religião. Ambos tinham perdido uma esposa —
um para a doença; o outro para o terror — e ambos eram muito respeitados por seus
pares em Washington e Londres. Rousseau não era nenhum Gabriel Allon, mas estava
lutando contra terroristas há quase tanto tempo quanto, e tinha as cicatrizes para provar.
— Algumas pessoas no meio político francês — disse Gabriel — gostariam de me
ver atrás das grades por causa das minhas atividades anteriores.
— É o que ouvi dizer.
— Se eu vou trabalhar aqui sem cobertura, exijo um documento que me conceda
imunidade total, agora e para sempre, amém.
— Vou ver o que posso fazer.
— E eu vou ver se consigo achar Saladin antes de ele atacar de novo.
Rousseau franziu o cenho.
— Uma pena que não foi você quem negociou o acordo nuclear iraniano.
— Pena mesmo — concordou Gabriel.
Já estava se aproximando das quatro da tarde. Rousseau se levantou, bocejou de
forma elaborada, espreguiçou-se e sugeriu uma caminhada.
— Ordens médicas — disse. — Parece que estou gordo demais para meu próprio
bem.
Eles passaram pela entrada do prédio de Hannah e, com os guarda-costas de
Bouchard e Gabriel logo atrás, caminharam à beira do Sena em direção à Notre-Dame.
Eram um par desconjuntado: o ex-professor da Sorbonne rechonchudo e vestido de
tweed e a figura pequena vestida de couro que parecia flutuar levemente acima da
superfície do calçamento. O sol estava baixo no horizonte, brilhando através de uma
fenda nas nuvens. Rousseau cobriu os olhos.
— Onde pretende começar?
— Com os arquivos, é claro.
— Vai precisar de ajuda.
— Obviamente.
— Quantos oficiais pretende trazer para o país?
— O número exato de que preciso.
— Posso dar-lhe uma sala na nossa sede na rue de Grenelle.
— Prefiro uma coisa mais privativa.
— Posso arranjar um esconderijo secreto.
— Eu também posso.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
#1