Gabriel parou em uma banca de jornal. Na primeira página do jornal Le Monde
estavam as duas fotografias de Safia Bourihane, a francesa de ascendência muçulmana, a
assassina velada do califado. A manchete tinha uma palavra: CATÁSTROFE!
— A catástrofe é responsabilidade de quem? — perguntou Gabriel.
— A investigação inevitável sem dúvida descobrirá que elementos do meu serviço
cometeram erros terríveis. Mas somos os verdadeiros culpados? Nós, os humildes
funcionários secretos que tentam conter a avalanche? Ou a culpa está em outro lugar?
— Onde?
— Em Washington, por exemplo — Rousseau seguiu caminhando pela margem do
rio. — A invasão do Iraque transformou a região em um caldeirão. E quando o novo
presidente americano decidiu que tinha chegado a hora de se retirar, o caldeirão
transbordou. E aí teve aquela insanidade que chamamos de Primavera Árabe. Fora,
Mubarak! Fora, Gaddafi! Fora, Assad! — balançou a cabeça. — Foi uma loucura, uma
loucura absoluta. E agora ficamos com isso. O ISIS controla uma porção de território
do tamanho do Reino Unido, bem às portas da Europa. Nem o Bin Laden teria ousado
sonhar com uma coisa dessas. E o que o presidente americano tem para nos dizer? O
ISIS não é islâmico. O ISIS é um time da série B — franziu o cenho. — O que isso
quer dizer? Série B?
— Acho que tem alguma coisa a ver com esportes.
— E o que esportes têm a ver com um assunto tão sério quanto a ascensão do
califado?
Gabriel apenas sorriu.
— Ele acredita mesmo nessa baboseira ou é ignorantia affectata?
— Ignorância voluntária?
— Isso.
— Você teria que perguntar para ele.
— Você o conhece?
— Já nos encontramos.
Rousseau obviamente estava tentado a perguntar sobre as circunstâncias desse
encontro único com o presidente americano, mas, em vez disso, seguiu com sua palestra
sobre o ISIS.
— A verdade — disse ele — é que o ISIS é, sim, islâmico. E tem muito mais em
comum com Maomé e seus primeiro seguidores, al salaf al salih, do que os chamados
especialistas gostariam de admitir. Ficamos horrorizados quando lemos relatos do ISIS
usando crucificação. Dizemos que são ações de bárbaros, não de homens de fé. Mas o
ISIS não crucifica só porque é cruel. Crucifica porque, segundo o Corão, a crucificação é
uma das punições prescritas para os inimigos do islã. Crucifica porque deve. Nós,
ocidentais civilizados, achamos isso quase impossível de compreender.
— Nós não achamos.
— Porque vocês vivem na região. São um povo da região — adicionou Rousseau.
— E sabem muito bem o que vai acontecer se gente como o ISIS for solta dentro dos
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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