A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

um camarada mais baixo, de cabelo curto. Não dava para ver bem o rosto dele. É que,
apesar do tempo nublado, ele estava de óculos escuros.
Rousseau olhou para Gabriel, mas ele, em seus pensamentos, estava atravessando um
pátio parisiense, poucos passos atrás do homem por quem o Escritório passara sete anos
procurando.
— Não fui o único que notou o homem de óculos escuros — disse Rousseau,
depois de um momento. — O companheiro bonito da Denise também notou. Ele tentou
sacar um revólver, mas o homem mais baixo sacou primeiro. Nunca vou esquecer a
forma como ele andou para a frente enquanto atirava. Foi... lindo. Houve dez tiros. Aí,
ele inseriu um pente novo na arma, apoiou o cano do revólver contra o ouvido do
homem e deu o último tiro. É estranho, mas não me lembro dele indo embora. Ele
parecia ter desaparecido — Rousseau olhou para Gabriel. — E agora está ao meu lado.
Gabriel não disse nada. Estava olhando para os paralelepípedos do pátio, os
paralelepípedos que ficaram vermelhos com o sangue de Sabri al-Khalifa.
— Tenho que admitir — disse Rousseau — que, por muito tempo, pensei que você
era um assassino. O mundo civilizado condena suas ações. Mas agora o mundo
civilizado se vê na mesma luta, e está usando as mesmas táticas. Drones, mísseis, homens
de preto no meio da noite — ele fez uma pausa, e completou: — Parece que a história
absolveu seus pecados.
— Não cometi pecados — respondeu Gabriel. — E não preciso ser absolvido.
Então, o celular de Rousseau vibrou no bolso do casaco, seguido, alguns segundos
depois, pelo de Gabriel. Mais uma vez, foi Gabriel quem sacou primeiro. Era uma
mensagem prioritária do boulevard Rei Saul. A DGSI enviara uma mensagem similar a
Rousseau.
— Parece que o ataque ao Centro Weinberg foi só o começo — Rousseau devolveu
o telefone ao bolso do casaco e fitou os paralelepípedos onde Sabri al-Khalifa caíra. —
Vai acabar assim também para o homem que chamam de Saladin?
— Se tivermos sorte.
— Quando você pode começar?
— Hoje à noite.

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