A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

As reivindicações de responsabilidade não demoraram. A primeira veio de uma
célula obscura na Líbia, país sem lei; a ela seguiu-se ao da organização al-Shabaab,
grupo baseado na Somália que aterrorizava a África Oriental. Por fim, apareceu em uma
popular rede social um vídeo em que um homem de capuz preto que falava inglês com
um sotaque do leste de Londres declarou que o ataque era obra do ISIS, e que havia
mais ataques a caminho. Então, embarcava, misturando inglês e árabe, em uma homília
divagante sobre os exércitos de Roma e um vilarejo sírio chamado Dabiq. Os
comentaristas de televisão estavam perplexos. A especialista de Cambridge, não.
A reação variou de ira a descrença a recriminações presunçosas. Em Washington, o
presidente americano condenou o atentado como “um ato temerário de assassinato e
barbárie”, mas, curiosamente, não mencionou os motivos dos culpados nem o islã,
radical ou não. Seus oponentes no Congresso rapidamente o culparam diretamente pelo
ataque. Se ele não tivesse retirado as tropas americanas do Iraque precipitadamente,
disseram, o ISIS nunca teria se enraizado na Síria. O porta-voz do presidente descartou
as sugestões de que era hora de o Exército dos Estados Unidos combater o ISIS
diretamente.
— Temos uma estratégia — disse ele. Depois, com toda a seriedade, completou: —
Ela está funcionando.
Na Holanda, porém, as autoridades não tinham interesse em distribuir culpa, pois
estavam ocupadas demais procurando por sobreviventes entre os escombros e pela
mulher de aproximadamente 30 anos, cabelos loiros, pernas compridas, quadris estreitos,
jeans azul, moletom de capuz e colete de lã que dirigira a bomba até o mercado. Por dois
dias, o nome dela permaneceu um mistério. Então, apareceu na mesma rede social o
segundo vídeo, narrado pelo mesmo homem que falava com sotaque do leste de
Londres. Dessa vez, ele não estava sozinho. Duas mulheres cobertas com véus estavam
ao seu lado. Uma ficou em silêncio; a outra falou. Ela se identificou como Margreet
Janssen, originalmente da cidade costeira de Noordwijk, na Holanda, convertida ao islã.
Ela plantara a bomba, disse, para punir os blasfemadores e infiéis em nome de Alá e
Maomé, que a paz esteja com ele.
Mais tarde naquele mesmo dia, o AIVD, serviço de segurança e inteligência holandês,
confirmou que Margreet Janssen viajara à Síria dezoito meses antes, permanecera lá por
cerca de seis meses e tivera permissão de voltar à Holanda depois de convencer as
autoridades holandesas de que tinha renunciado às suas ligações com o ISIS e o
movimento jihadista global. O serviço de segurança a mantivera sob vigilância eletrônica
e física, mas logo desistira, pois ela não exibia sinais de envolvimento com atividades
islâmicas radicais. Obviamente, disse um porta-voz do AIVD, fora um erro de
julgamento.
Dentro de minutos, as salas de internet do califado digital foram incendiadas com
conversas animadas. De repente, Margreet Janssen era o novo símbolo do jihad global,
uma ex-cristã de um país europeu que agora era membro letal da comunidade de fiéis.
Mas quem era a outra mulher no vídeo? A que não falou? A resposta veio não de

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