A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

Amsterdã, mas de um prédio que parecia uma fortaleza no subúrbio de Levallois-Perret,
em Paris. A segunda mulher, disse o chefe da DGSI, era Safia Bourihane, uma das
culpadas pelo ataque ao Centro Weinberg.
Antes de parar de vigiar Margreet Janssen, o AIVD reunira um denso dossiê de
relatórios de observação, fotografias, e-mails, mensagens de texto e históricos de
internet, junto com arquivos secundários sobre amigos, familiares, associados e colegas
viajantes do movimento jihadista global. Paul Rousseau recebeu uma cópia do dossiê
durante uma reunião na sede do AIVD em Haia e, ao voltar a Paris, entregou-o a
Gabriel em uma brasserie tranquila na rue de Miromesnil, no oitavo arrondissement. O
dossiê tinha sido digitalizado e guardado em um pen drive seguro. Rousseau deslizou o
objeto pela mesa por baixo de um guardanapo, e isso com a discrição de um tiroteio em
uma capela vazia. Não importava; a brasserie estava deserta, a não ser por um homenzinho
careca vestindo um terno bem-cortado e uma excêntrica gravata cor de lavanda. Ele bebia
uma taça de Côtes du Rhone e lia uma cópia do jornal Le Figaro, cheio de notícias de
Amsterdã. Gabriel colocou o pen drive no bolso de seu casaco sem fazer esforço para
esconder a ação, e perguntou a Rousseau sobre o clima na sede do AIVD.
— Algo entre pânico e resignação — respondeu Rousseau. — Estão aumentando a
vigilância a extremistas islâmicos conhecidos e procurando o homem que construiu a
bomba e outros elementos da rede — baixou a voz e completou: — Queriam saber se eu
tinha alguma ideia.
— Você mencionou Saladin?
— Talvez eu tenha esquecido — disse Rousseau, com um sorriso dissimulado. —
Mas, em algum momento, vamos ter que falar oficialmente com nossos amigos aqui da
Europa.
— São seus amigos, não meus.
— Você tem um histórico com os serviços holandeses?
— Nunca tive o prazer de visitar os Países Baixos.
— Por algum motivo, acho difícil de acreditar — Rousseau olhou para o
homenzinho careca sentado do outro lado da brasserie. — Amigo seu?
— Ele é dono de uma loja do outro lado da rua.
— Como você sabe?
— Eu o vi saindo e trancando a porta.
— Que observador — Rousseau olhou para a rua escura. — Antiquités
Scientifiques?
— Microscópios antigos e coisas assim — explicou Gabriel.
— Interessante — Rousseau contemplou sua xícara de café. — Parece que não fui o
único visitante estrangeiro no AIVD ontem. Um americano passou lá também.
— Agência?
Rousseau assentiu.
— Local ou Langley?
— A última.

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