A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

integrados à sociedade. Respondeu que não queria fazer parte de um califado governado
por homens que decapitam, crucificam e queimam vivos seus inimigos.
— Que lindo imaginar isso — Dina balançou a cabeça lentamente. — O que deu
errado, Gabriel? Por que mais de quinhentas jovens ocidentais se juntaram às tropas do
ISIS? Por que homens barbados são as novas estrelas do islã? Por que assassinos
viraram descolados?
Dina dedicara a vida a estudar o terrorismo e o extremismo islâmico, mas mesmo
assim não tinha respostas.
— Achamos que a violência do ISIS causaria repulsa. Estávamos errados.
Supusemos que a assimilação era a resposta, porém, quanto mais assimilam, menos elas
gostam do que veem. Por isso, quando um recrutador do ISIS bate à porta digital delas,
estão vulneráveis.
— Você é generosa demais, Dina.
— São crianças — ela pausou. E então completou: — Crianças influenciáveis.
— Nem todas.
— É verdade. Várias são formadas e estudaram muito mais do que os homens que se
juntaram ao ISIS. As mulheres são proibidas de lutar, então assumem papéis de apoio
importantes. Em vários sentidos, são elas que estão realmente construindo o califado.
Muitas vão ter um marido, e um marido que, provavelmente, logo será um mártir. Uma
em cada quatro mulheres se tornará viúva. Viúvas negras — adicionou. — Doutrinadas,
amarguradas, vingativas. E só é necessário um bom recrutador ou um olheiro talentoso
para transformá-las em bombas-relógios — ela apontou para o homem meio fora de
foco sentado sozinho no café de estilo árabe. — Como ele. Infelizmente, os franceses
nunca o notaram. Estavam ocupados demais olhando para a amiga da Safia.
— Quem é ela?
— Uma garota que assistiu a alguns vídeos de decapitação na internet. É uma perda
de tempo, dinheiro e mão de obra. Mas a Safia, não. A Safia era uma tragédia prestes a
acontecer — Dina deu um passo para a direita e indicou uma segunda fotografia. —
Três dias depois que a Safia tomou um café com a amiga em Saint-Denis, ela veio para o
centro de Paris fazer umas compras. Esta foto foi tirada quando ela estava andando pelas
arcadas da rue de Rivoli. E olha quem está andando uns passos atrás dela.
Era o mesmo homem do café — o homem barbeado com rosto angular que podia
ser árabe, francês ou italiano.
— Como não o viram?
— Boa pergunta. E não o viram aqui, também.
Dina apontou para uma terceira fotografia, tirada no mesmo dia, uma hora depois.
Safia Bourihane estava saindo de uma loja de roupas femininas na Champs-Élysées. O
mesmo homem estava esperando na calçada, fingindo consultar um guia de turismo.
— Envie as fotos para o boulevard Rei Saul — instruiu Gabriel. — Veja se aparece
alguma coisa.
— Já enviei.

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