A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1
— E?

— O boulevard Rei Saul nunca foi apresentado a ele.
— Talvez isso ajude — Gabriel mostrou o pen drive.
— O que é?
— Vida e época de Margreet Janssen.
— Imagino quanto tempo vai demorar para encontrar o admirador nem tão secreto
da Safia.
— Eu me apressaria, se fosse você. Os americanos também têm o arquivo dela.
— Vou ser mais rápida que eles — disse ela. — Sempre sou.


Dina levou menos de meia hora para encontrar a primeira fotografia de vigilância de
Margreet Janssen com o homem que seguia Safia Bourihane em Paris. Uma equipe do
AIVD tirara a fotografia em um excêntrico restaurante italiano no centro de Amsterdã
onde Margreet, tendo saído de sua triste casa em Noordwijk, servia mesas recebendo um
salário de morrer de fome. Não foi difícil encontrá-lo; ele estava jantando sozinho, com
um livro de Sartre como proteção. Dessa vez, a câmera conseguiu focalizá-lo, mas sua
aparência estava um pouco diferente. Um par de óculos redondos suavizava sua
fisionomia brusca; um cardigã emprestava a ele um ar amigável de bibliotecário.
Margreet era sua garçonete e, a julgar pelo largo sorriso, ela o achava atraente — tão
atraente, aliás, que concordou em encontrar-se com ele para uns drinques mais tarde em
um bar próximo ao bairro da luz vermelha. A noite terminou com um tapa bem dado
por Margreet com a mão direita na bochecha esquerda do homem, testemunhado pela
mesma equipe de vigilância. Era um belo truque, pensou Gabriel. Os holandeses
descartaram o homem como sendo um grosseirão e nunca tentaram descobrir a
identidade dele.
Mas qual era a ligação entre as duas mulheres, fora o homem que podia ser árabe,
francês ou italiano? Dina também a encontrou. Tratava-se de um site hospedado no
emirado do Qatar, no Golfo Pérsico, que vendia roupas para muçulmanas devotas e de
bom gosto. Safia Bourihane tinha navegado nele três semanas antes da visita do homem
a Paris. Margreet Janssen entrara ali apenas dez dias antes do tapa em Amsterdã. Dina
suspeitava que o site contivesse uma sala criptografada em que recrutadores do ISIS
podiam convidar jovens promissoras para um bate-papo em particular. Até agora, essas
salas tinham se provado quase impenetráveis aos serviços de inteligência de Israel e do
Ocidente. Até a poderosa Agência de Segurança Nacional, o onisciente serviço de
inteligência de sinais dos Estados Unidos, tinha dificuldade de acompanhar o ritmo da
hidra digital do ISIS.


Não há sentimento pior para um espião profissional do que tomar conhecimento,
Free download pdf