— Sempre gostei do Adrian — declarou Rousseau. — Ele tem um bom coração,
honesto demais para um espião. É de se imaginar como um homem desses pode
sobreviver há tanto tempo em um lugar como Langley.
Como esperado, o Grupo Alpha de Rousseau levou apenas quarenta e oito horas para
descobrir que o homem do café em Saint-Denis tinha viajado a Paris de Londres em um
trem de alta velocidade da Eurostar. Fotografias de vigilância o mostraram
desembarcando na Gare du Nord no fim da manhã, e embarcando no metrô poucos
minutos depois, em direção aos subúrbios do norte de Paris. Ele foi embora de Paris na
manhã seguinte, depois de ser fotografado na rue de Rivoli e na Champs-Elysée,
também a bordo de um trem Eurostar, em direção a Londres.
Ao contrário da maioria dos trens internacionais na Europa Ocidental, o Eurostar
exige que os passageiros passem pelo controle de passaporte antes de embarcar. O
Grupo Alpha rapidamente descobriu o homem nas listas de passageiros. Ele era Jalal
Nasser; nascido em Amã, na Jordânia, em 1984, atualmente morando no Reino Unido,
endereço desconhecido. Rousseau enviou uma mensagem ao MI5 em Londres,
perguntando, na linguagem mais neutra possível, se o serviço de segurança britânico
sabia o local de residência de certo Jalal Nasser, e se havia motivos para suspeitar de seu
envolvimento com qualquer forma de extremismo islâmico. O endereço dele chegou
duas horas depois: 33 Chilton Street, Bethnal Green, zona leste de Londres. E não, disse
o MI5, não havia evidência sugerindo que Nasser fosse qualquer coisa além do que dizia
ser: um estudante de economia da King’s College, na qual estava matriculado, entre idas
e vindas, há sete anos.
Gabriel despachou Mikhail para Londres junto com dois agentes do tipo faz-tudo
chamados Mordecai e Oded. Algumas horas depois de chegarem, eles conseguiram um
pequeno apartamento na Chilton Street. Também conseguiram tirar uma fotografia de
Jalal Nasser, o eterno estudante, andando pela Bethnal Green Road com uma sacola de
livros em um dos ombros. A foto apareceu no celular de Gabriel naquela noite,
enquanto ele estava no quarto dos bebês em seu apartamento em Jerusalém observando
as duas crianças, que dormiam em paz nos berços.
— Eles sentiram muita saudade — disse Chiara. — Mas se acordá-los...
— O quê?
Ela sorriu, pegou-o pela mão e o levou ao quarto deles.
— Em silêncio — sussurrou ela, enquanto abria os botões da camisa. — Silêncio
total.