A Viúva Negra

(Carla ScalaEjcveS) #1

F


SEDE DO DGI, AMÃ

areed Barakat sabia mais sobre o ISIS do que qualquer outro oficial de inteligência no
mundo, e por bons motivos. As origens do movimento eram o subúrbio de Zarqa, em
Amã, onde, num sobrado com vista para um cemitério abandonado, vivera um homem
chamado Ahmad Fadil Nazzal al-Khalayleh, que bebia muito, participava de violentas
brigas de rua e tinha tantas tatuagens que as crianças do bairro o chamavam de “homem
verde”. A mãe dele, uma muçulmana devota, acreditava que só o islã poderia salvar seu
filho atormentado. Matriculou-o em aulas de religião na Mesquita al-Hussein Bin Ali,
onde al-Khalayleh encontrou sua vocação. Ele rapidamente se tornou um inimigo radical
e dedicado da monarquia jordaniana, que estava determinado a derrubar à força. Passou
vários anos dentro das prisões secretas do DGI, incluindo uma temporada na notória
fortaleza desértica de al-Jafr. O líder desse bloco de celas era Abu Muhammad al-
Maqdisi, pregador ativista que foi um dos teóricos mais importantes do jihadismo. Em
1999, um jovem rei ascendeu ao trono após a morte de seu pai, e decidiu libertar mais de
mil criminosos e presos políticos, em um gesto tradicional de boa vontade. Entre os
homens que ele libertou estavam al-Maqdisi e seu violento pupilo de Zarqa.
Naquela época, o antigo brigão com tatuagens demais já era conhecido como Abu
Musab al-Zarqawi. Pouco depois de sua libertação, viajou até o Afeganistão e jurou
lealdade a Osama bin Laden. Em março de 2003, na iminência da invasão norte-
americana ao Iraque, foi para Bagdá e formou as células de resistência que acabariam
conhecidas como al-Qaeda no Iraque. A onda de decapitações e atentados extremistas
espetaculares executados por Zarqawi e seus associados levou o país à beira de uma
guerra civil. Ele era o protótipo de um novo tipo de extremista islâmico disposto a usar
formas de violência horríveis para chocar e aterrorizar. Até Ayman al-Zawahiri, segundo
mais poderoso da organização al-Qaeda, o repreendeu.
Um ataque aéreo americano acabou com a vida de Zarqawi em junho de 2006, e, no
fim da década, a rede al-Qaeda no Iraque tinha sido dizimada. Mas, em 2011, dois
acontecimentos conspiraram para ressuscitar sua missão: a eclosão da guerra civil na
Síria e a retirada das forças americanas do Iraque. Agora conhecido como ISIS, o grupo
renasceu das cinzas e se precipitou no vácuo de poder na fronteira Síria-Iraque. O
território sob seu controle ia do berço da civilização à soleira da Europa. O Reino
Hachemita da Jordânia estava diretamente em sua mira. Israel também.

Entre os milhares de jovens muçulmanos do Oriente Médio e da Europa atraídos
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