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SEDE DODGI, AMÃ
obre o xará do terrorista, porém, o chefe do DGI sabia bastante. Salah ad-Din Yusuf
ibn Ayyub, ou Saladin, tinha nascido em uma família importante de curdos, na cidade de
Tikrit, em aproximadamente 1138. O pai dele era um mercenário. O jovem Saladin viveu
por certo tempo em Baalbek, onde hoje fica o Líbano, e em Damasco, onde bebeu
vinho, seduziu mulheres e jogou polo à luz de velas. Dentre todas, Damasco era a cidade
que ele mais gostava. Mais tarde, descreveria o Egito, centro financeiro de seu império,
como uma prostituta que tentara separá-lo de sua fiel esposa Damasco.
O reino dele ia do Iêmen à Tunísia e ao norte da Síria, e era governado por uma
miscelânea de príncipes, emires e parentes gananciosos, todos unidos pelas habilidades
diplomáticas e pelo considerável carisma de Saladin. Ele usava a violência para conseguir
seus propósitos, mas a achava repugnante. Certa vez, comentou com seu filho favorito,
Zahir: “Aconselho-o a não derramar sangue, a não tirar prazer disso, nem fazer disso
um hábito, pois o sangue nunca dorme.”
Ele era aleijado e doente, cuidado constantemente por uma equipe de 21 médicos,
incluindo Maimônides, filósofo e estudioso do Talmude e nomeado seu médico da corte
no Cairo. Sem vaidades pessoais — em Jerusalém, ele certa vez deu uma sonora
gargalhada quando um cortesão derrubou lama em seus robes de seda —, tinha pouco
interesse em riquezas pessoais ou prazeres terrenos. Seus momentos mais felizes eram
quando estava rodeado de poetas e homens de saber; porém o que mais o consumia era
o conceito de jihad, ou guerra santa. Construiu mesquitas e centros de ensino islâmico
por todo o seu território, e gastou dinheiro e favores com pregadores e estudiosos da
religião. Seu objetivo era recriar o fervor que permitira que os primeiros seguidores do
islã conquistassem metade do mundo conhecido. E, uma vez reavivada a ira sagrada, ele
focou no prêmio que lhe escapava: Jerusalém.
Um posto avançado não muito grande alimentado por nascentes, a cidade ocupava
um terreno alto estratégico no cruzamento de três continentes, pecado geográfico pelo
qual seria punida por muitas eras. Sitiada, saqueada, capturada e recapturada, Jerusalém
fora governada por jebuseus, egípcios, assírios, babilônios, persas, gregos, romanos,
bizantinos e, é claro, judeus. Quando Omar al-Khattab, confidente íntimo de Maomé,
conquistou Jerusalém em 639 d.C. com um pequeno bando de cameleiros de Hejaz e do
Iêmen, a cidade era predominantemente cristã. Quatro séculos e meio depois, o papa
Urbano II despacharia uma força expedicionária de vários milhares de cristãos europeus