ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Ele também encontra coisas?
— Por assim dizer.
Girard devolveu o cartão e, com um movimento dos olhos, pediu para ver o conteúdo
da maleta de Herr Drexler.
— Você tem um lugar com um pouco mais de privacidade? — perguntou Gabriel,
lançando um olhar breve para a grande vitrine da galeria com vista para a praça cheia de
transeuntes.
— Algum problema?
— Nenhum — falou Gabriel, passando segurança. — Mas St. Moritz não é mais a
mesma.
Girard examinou Gabriel com atenção antes de se levantar e andar até uma porta
protegida com fechadura eletrônica. Do outro lado, havia uma sala de armazenamento com
controle de temperatura, onde era guardadas as peças que ainda não tinham sido expostas na
seção principal da galeria e provavelmente nunca seriam. Gabriel observou tudo por um
instante antes de destravar a maleta. Em seguida, revelou o fragmento do vaso com um floreio
e o dispôs com cuidado na mesa para que Girard pudesse ver a imagem com clareza.
— Eu não negocio fragmentos — afirmou ele.
— Nem eu.
Gabriel lhe passou as fotos; a última mostrava o vaso remendado.
— Alguns pequenos fragmentos superficiais estão faltando — informou —, mas nada
que um bom restaurador não possa consertar. Eu tenho um conhecido que pode fazer esse
trabalho, se você tiver interesse.
— Prefiro usar meu próprio restaurador — retrucou Girard.
— Foi o que imaginei.
Girard calçou luvas de borracha e examinou o fragmento com uma lente de aumento
profissional.
— Parece um trabalho de Amykos. Deve ser mais ou menos do ano 420 a.C.
— Eu concordo.
— Onde você encontrou?
— Aqui e ali — falou Gabriel. — A maior parte das peças veio de antigas coleções de
família na Alemanha e aqui na Suíça. Levei cinco anos para rastrear todas.
— É mesmo?
Girard devolveu o fragmento e foi até um computador. Depois de digitar algumas
teclas, uma folha saiu da impressora colorida. Era um alerta emitido pela Associação Suíça de
Negociantes de Artes e Antigüidades. Falava sobre um vaso ático de pinturas vermelhas que
fora roubado duas semanas antes, numa casa residencial no sul da França. Girard colocou o
papel na mesa ao lado das fotos e olhou para Herr Drexler em busca de explicação.
— Como você sabe — disse Gabriel, recitando palavras que tinham sido escritas para
ele por Lavon —, Amykos era um artista muito produtivo. Ele criou imagens numerosas que
aparecem muitas vezes no decorrer de suas obras. Meu vaso é simplesmente uma cópia
daquele que foi roubado na França.
— Então é uma coincidência?

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