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St. Moritz, Suíça
A bomba fora feita por um perito e plantada com habilidade. Inicialmente, a polícia
federal suíça concluiu que tinha sido detonada por um cronômetro, mas depois descobriram
que um celular a acionara. A explosão estilhaçou centenas de vidraças no centro do vilarejo,
provocou uma série de avalanches nas pistas de esqui mais altas e derrubou prateleiras com
garrafas
Dom Pérignon expostas no saguão ornamentado do Badrutts Palace Hotel. O vidro
quebrado foi removido com a típica eficiência suíça e a ordem, logo restaurada. Mesmo
assim, todos concordaram que St. Moritz nunca mais seria a mesma.
Apesar da força da detonação, apenas três pessoas foram mortas, incluindo o dono da
galeria de antigüidades. Outras 54 ficaram feridas, como o presidente de um grande banco
suíço, um famoso jogador inglês de futebol americano e uma modelo tcheca que fora a St.
Moritz para se consolar após o término de seu terceiro casamento. A maioria sofrerá apenas
pequenos cortes e hematomas, mas houve também alguns ossos quebrados.
Uma das vítimas mais gravemente feridas não pôde ser identificada. O homem não
portava passaporte nem cartões de crédito no momento da explosão e, depois, não foi capaz
de lembrar seu nome nem a razão pela qual tinha ido a St. Moritz. Com inúmeras lacerações e
uma concussão grave, permaneceu hospitalizado por vários dias sem saber — ou ao menos
parecia não saber — que era objeto de grande interesse por parte da polícia suíça.
Para começo de conversa, havia uma gravação dele parado na entrada da galeria na
hora em que a bomba fora detonada, usando uma peruca e óculos de grau falsos e segurando
uma maleta de alumínio — todos os itens foram recolhidos pelos peritos. E também havia o
homem alto de olhos cinzentos com sotaque russo que tentou carregá-lo para longe da praça
até ser parado pela polícia. E o grupo grande e multilíngue de turistas que fugiram de um
château numa colina depois de apenas três dias, sendo que tinham feito reservas para uma
semana. Uma busca minuciosa da casa e do quarto do hotel do russo não revelou nenhuma
pista dos nomes e das identidades das pessoas.
O aspecto mais intrigante do caso foi o rosto distinto do homem ferido, que se revelou
aos poucos conforme o inchaço diminuía e os hematomas desapareciam. Era um rosto bem
conhecido do DAP, o serviço secreto suíço. Inclusive, havia uma prateleira inteira na sala de
arquivos deles dedicada unicamente às façanhas desse homem no solo de sua amada terra. E
agora, enfim, ele fora entregue indefeso às mãos do governo. Algumas pessoas queriam
prendê-lo numa rede para evitar uma fuga, porém os mais sensatos prevaleceram. Eles o
ficaram vigiando, esperando que suas feridas curassem. E, quando ele se recuperou o
suficiente para deixar o hospital, o algemaram e o levaram embora.
Sem se dar o trabalho de avisar à kantonspolizei, eles o meteram num helicóptero, que
os carregou pelos ares a alta velocidade até a sede da polícia federal suíça, na
Nussbaumstrasse, em Berna. Depois de registrarem as digitais e fotografarem seu rosto de
todos os ângulos imagináveis, o trancaram numa cela com uma pequena televisão de tela