ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

divisão antiterrorismo do DAP. Isso significava que era mais espião do que policial. Outro
sinal encorajador. Policiais prendem. Espiões fazem acordos.
— Antes de mais nada — começou ele —, você precisa saber que Ziegler e o
Departamento Federal de Justiça, assim como a polícia, pretendem registrar acusações
formais contra você amanhã cedo. Eles têm provas mais do que suficientes para garantir que
você passe o resto da vida numa prisão suíça. Você também deveria saber que há um bom
número de pessoas aqui em Berna que adorariam ter a honra de escoltá-lo até uma cela.
— Eu não tive nada a ver com aquela bomba.
— Eu sei.
Bittel pegou um controle remoto e apontou para um monitor no canto da sala. Poucos
segundos depois, duas figuras apareceram: o homem alto que falava francês e a garota cujo
rosto lembrava uma pintura de El Greco. Gabriel o observou mais uma vez sussurrando no
ouvido dela.
— Esses são os responsáveis — falou Bittel, pausando o vídeo. — A garota escondeu
a bomba no lavabo da galeria enquanto seu colega manteve Girard ocupado.
— Quem são eles?
— Nós esperávamos que você soubesse.
— Nunca os vi antes.
Bittel avaliou Gabriel com um ar de dúvida por um momento antes de desligar o
monitor.
— Você é um homem de muita sorte, Sr. Allon. Parece que tem muitos amigos em altos
escalões. Um deles intercedeu por você.
— Então é isso? Estou livre para partir?
— Não exatamente. Você violou várias leis que proíbem atividades de espionagem por
parte de estrangeiros. Leis que nós levamos muito a sério. Somos um país acolhedor —
acrescentou ele, como se estivesse compartilhando uma informação bastante confidencial. —
Mas insistimos que nossos visitantes façam a cortesia de assinar o livro de visitas na entrada,
de preferência usando os nomes verdadeiros.
— E o que vocês teriam feito se eu tivesse pedido ajuda?
— Teríamos mandado você embora e lidado com isso nós mesmos. Somos suíços. Não
gostamos de estrangeiros se intrometendo em nossos assuntos.
— Nós também não. Mas, infelizmente, temos que lidar com isso todo dia.
— Acredito que isso se deva ao fato de você ser israelense — afirmou Bittel, com uma
entonação filosófica. — A história sacaneou vocês, mas isso não lhes dá o direito de tratar
nosso país como um resort para coleta de informações.
— Minhas visitas ao seu país nunca foram muito agradáveis.
— Mas sempre foram produtivas. E é isso que conta. Você é diligente, Allon. Nós
admiramos esse aspecto.
— Então o que você quer de mim?
— Gostaríamos que você fechasse suas contas na Suíça.
— Como assim?

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