ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Eu pergunto sobre suas operações no passado e você me responde. Com a verdade,
para variar — falou ele, incisivo.
— Isso pode levar um tempo.
— Não tenho nenhum compromisso. Nem você, Allon.
— E se eu recusar?
— Será acusado formalmente de espionagem, terrorismo e assassinato. E passará o
resto de sua merecida aposentadoria aqui na Suíça.
Gabriel fez uma expressão pensativa.
— Temo que isso não seja bom o suficiente.
— O que não é bom o suficiente?
— O acordo. Quero um acordo melhor.
— Você não está em posição de fazer exigências, Allon.
— Você nunca vai me levar a julgamento, Bittel. Eu sei muitas coisas sobre os pecados
de seus banqueiros e empresários. Seria um desastre de relações públicas para a Suíça, que
nem o escândalo das contas do Holocausto. — Gabriel fez uma pausa. — Você se lembra
daquilo, certo? Saiu em todos os jornais.
Dessa vez foi Bittel que se mostrou pensativo.
— Tudo bem, Allon. O que você quer?
— Acho que está na hora de iniciar um novo capítulo no relacionamento entre nossos
países.
— E como faríamos isso?
— É óbvio que vocês vêm monitorando David Girard por algum tempo — respondeu
Gabriel. — Eu quero cópias de seus arquivos, incluindo todos os registros de ligações
telefônicas e de e-mail.
— Isso está fora de cogitação.
— É um admirável mundo novo, Bittel.
— Vou precisar da aprovação dos meus superiores.
— Eu posso esperar. Como você mesmo disse, não tenho outros compromissos.
Bittel se levantou e saiu da sala. Dois minutos depois, estava de volta. A boa e velha
eficiência suíça.
— Acho que será mais fácil se fizermos isso na ordem cronológica inversa — disse
Bittel, abrindo seu bloco de anotações. — Alguns meses atrás, um residente de Zurique foi
decapitado num quarto de hotel em Dubai. Estávamos nos perguntando se você saberia
explicar por quê.
Muitos anos atrás, um dissidente suíço, professor Emil Jacobi, dera um excelente
conselho a Gabriel: "Ao lidar com a Suíça, é melhor manter algo em mente. A Suíça não é um
país. É uma empresa. E é administrada como uma empresa."
Portanto, Gabriel não ficou nem um pouco surpreso quando Bittel conduziu a entrevista
com a formalidade de uma transação de negócios. Ele tinha os modos de um banqueiro
particular: educado, mas distante; minucioso, mas discreto. Fez seu trabalho com diligência,
mas sem malícia alguma. Gabriel ficou com a distinta impressão de que o agente não desejava
qualquer registro que pudesse lhe trazer problemas no futuro, que ele estava apenas fazendo

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