ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

marcações pontuais. Mas era o que se poderia esperar de qualquer banqueiro suíço: quer o
dinheiro do cliente e não se importa muito com a procedência.
Os dois continuaram trabalhando até chegarem ao caso Augustos Rolfe, a primeira
incursão de Gabriel na conduta deplorável dos bancos suíços durante a Segunda Guerra
Mundial. Ele tomou cuidado para não dizer nada incrimina— tório e não revelar fontes ou
procedimentos operacionais do Escritório. Quando Bittel pedia informações mais
aprofundadas, ele se esquivava. Se era ameaçado, fazia suas próprias ameaças. Não se
desculpou por suas ações, nem pediu para ser absolvido. Era uma confissão sem culpa nem
expiação. Uma transação de negócios; nada mais.
— Eu deixei algo de lado? — perguntou Bittel.
— Você não espera mesmo que eu responda, certo?
Bittel fechou o bloco e chamou um guarda para levar Gabriel de volta à sua cela. Um
café da manhã tipicamente suíço o aguardava, junto com um kit de higiene pessoal e uma muda
nova de roupas. Ele comeu assistindo ao noticiário matutino. Mais uma vez, sua prisão não foi
mencionada. A única matéria relacionada a St. Moritz estava ligada a uma importante
competição de esqui do Campeonato Mundial.
Depois de comer, Gabriel foi conduzido aos chuveiros e lhe disseram que tinha uma
hora para tomar banho e se vestir. Bittel o aguardava na cela com duas maletas de alumínio
fabricadas na Suíça. Dentro de uma, estava o material que Gabriel requisitara; na outra, os
fragmentos do vaso quebrado.
— Se você preferir — ofereceu Bittel podemos dizer à polícia francesa que
encontramos isso num guarda-volumes do aeroporto.
— Obrigado — agradeceu Gabriel —, mas eu cuido disso.
— O mais rápido possível — advertiu Bittel. — Vamos, sua carona chegou.
Eles subiram até o saguão principal do prédio. Um Mercedes sedã aguardava em frente
à entrada com o motor ligado. Bittel se despediu de Gabriel com um aperto caloroso de mãos,
como se eles tivessem passado a noite juntos vendo filmes antigos. Em seguida, Gabriel se
acomodou no banco de trás do carro. Sentado ao lado, falando ao celular, estava Uzi Navot.
Ele olhou para os curativos no rosto de Gabriel e franziu a testa.
— Parece que eles fizeram um bom interrogatório.
— Valeu a pena.
— O que você conseguiu?
— Uma maleta cheia de material dos meus novos melhores amigos no DAP.
— Ótimo — respondeu Navot. — Porque vamos precisar de toda a ajuda possível.


26


Berna, Suíça
Gabriel e Navot partiram do princípio de que os suíços tinham plantado transmissores
em ambas as maletas, logo não disseram mais nada até chegarem à segurança da embaixada
israelense. Ela ficava numa casa antiga no bairro diplomático, numa rua estreita fechada para

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