formidável do mundo. Suas mãos estavam sujas do sangue de outras pessoas. Era
Massoud, afirmou ela. Massoud, o sortudo.
Gabriel a levou escada acima e deixou que Dina relatasse sua opinião a Uzi Navot. Ele
empalideceu e, involuntariamente, olhou para a pilha de informações mais recentes que
indicavam um ataque iminente. Navot pediu recomendações e Gabriel lhe fez apenas uma.
Havia riscos óbvios, disse, mas eram muito menores que os riscos de não fazer nada.
Navot subiu com pressa a colina até Jerusalém para pedir a aprovação do primeiro-
ministro, o que obteve em uma hora. Agora restava apenas a ligação de cortesia obrigatória
aos americanos, um serviço que ele delegou alegremente a Gabriel.
— O que quer que você faça — recomendou, no caminho para Ben Gurion —, não peça
a permissão deles. Apenas descubra se há alguma mina que possa explodir na nossa cara. Não
estamos lidando com uma facção da OLP. É a porra do império persa.
27
Herndon, Virgínia
Antigamente era uma fazenda, mas fazia muito tempo a terra fora engolida pela
interminável expansão da cidade de Washington. Agora, só havia blocos residenciais com
grandes casas de valor cada vez menor e crianças de aparência sadia que passavam tempo
demais navegando pelos cantos obscuros da internet. A aparente harmonia não escondia o fato
de que os Estados Unidos, o último aliado de Israel no mundo, estava em declínio.
A construção de tijolos com dois andares no final de Stillwater Court diferia das
demais apenas pelas janelas à prova de balas. Por muitos anos, os vizinhos acreditaram que o
proprietário daquela casa trabalhava numa das empresas de alta tecnologia que se
enfileiravam no Dulles Corridor. Então, veio a promoção que o forçou a andar num Escalade
blindado e, em pouco tempo, os outros moradores se deram conta de que havia ali um espião.
Mas não um espião qualquer. Adrian Carter era o chefe do Serviço Clandestino Nacional, uma
divisão operacional da CIA, e estava no posto havia mais tempo que qualquer um de seus
antecessores, um feito que ele atribuía mais à teimosia que ao talento. Mas isso era típico de
Carter. Um dos últimos executivos da Agência recrutados entre os protestantes da Nova
Inglaterra, ele acreditava que a vaidade só não era um pecado maior do que as trapaças no
golfe.
Apesar de ainda ser março, um sol forte queimava a nuca de Gabriel enquanto ele
atravessava o amplo quintal de Carter com um agente da CIA ao lado. Carter o aguardava em
frente à porta aberta. Ele tinha os cabelos ralos e despenteados de um professor universitário
e um bigode que saíra de moda na época do auge da discoteca e da Guerra Fria. Sua calça
cáqui de algodão precisava ser passada; o suéter de gola olímpica começava a desbotar nos
cotovelos.
— Desculpe por arrastar você até aqui — disse ele, apertando a mão de Gabriel. —
Mas é o meu primeiro dia de folga em um mês e eu não suportaria uma viagem até Langley ou
um de nossos esconderijos.