ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Eu ficaria feliz se nunca mais visse o interior de um esconderijo.
— Então por que você voltou? — perguntou Carter, em tom sério. — E que merda é
essa que aconteceu com seu rosto?
— Eu estava muito perto de uma galeria suíça de antigüidades quando uma bomba
explodiu.
— St. Moritz?
Gabriel assentiu.
— Eu sabia que nossa conversa seria interessante.
— Você ainda não ouviu a melhor parte.
Carter sorriu.
— Entre — convidou, fechando depois a porta. — Pedi a minha esposa para sair e
fazer uma longa caminhada. E não se preocupe: ela levou Molly.
— Quem é Molly?
— Au, au.
Um lanche estava servido na varanda envidraçada com vista para o pedaço verde do
sonho norte-americano que era o terreno de Carter. Gabriel respeitosamente encheu o prato
com frios e salada de macarrão, mas não tocou na comida enquanto relatava a estranha jornada
que o levara da Basílica de São Pedro até ali. Ao terminar o relato, ele mostrou duas
fotografias para Carter, uma de Ali Montazeri e a garota saindo da Galeria Naxos em St.
Moritz, a outra de David Girard sentado num bonde em Zurique.
— Observe com atenção o homem à esquerda dele — disse Gabriel. — Você o
reconhece?
— Não tenho certeza.
— E agora?
Gabriel passou outra imagem do homem para Carter. Dessa vez, ele aparecia entrando
na embaixada iraniana em Berlim.
Carter ergueu os olhos bruscamente.
— Massoud?
— Em carne e osso.
Filho de um pastor episcopal, Carter praguejou baixinho.
— Nós tivemos a mesma reação.
Carter colocou a foto na mesa ao lado das outras e a encarou em silêncio. Massoud
Rahimi era um dos raros habitantes do mundo secreto que não exigiam apresentação. Na
verdade, ninguém nunca se dava o trabalho de dizer seu sobrenome. Chamavam-no apenas de
Massoud, um homem que tinha um dedo em todos os grandes atos terroristas vinculados ao Irã
desde o bombardeio aos quartéis dos fuzileiros navais em Beirute, em 1983. Atualmente,
trabalhava para a embaixada do Irã em Berlim, que também servia como a principal base de
operações do VEVAK no Ocidente. Ele portava um passaporte diplomático com outro nome e
alegava ser um funcionário de baixo escalão no departamento consular. Nem mesmo os
alemães, que mantinham relações comerciais próximas com o Irã, acreditavam nisso.
— Qual é a sua teoria? — perguntou Carter.

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