contas secretas de Massoud. E as horas que restavam até que Massoud encharcasse as ruas
com sangue.
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Wannsee, Berlim
Um dos maiores mistérios da operação era como a equipe no esconderijo de Berlim
tinha ido parar no distrito de Wannsee. O líder do Departamento de Acomodações alegaria
que fora mera coincidência, que ele tinha escolhido a propriedade porque ela estava
disponível e era adequada. Foi só depois, ao final do caso, que o homem acabou admitindo
que a decisão tinha sido influenciada por ninguém menos que Ari Shamron. Ele queria lembrar
a Gabriel e à equipe o que acontecera em Wannsee em janeiro de 1942, quando quinze nazistas
do alto escalão se reuniram para um almoço numa casa à beira do lago para resolver os
detalhes burocráticos referentes à exterminação de um povo. E talvez desejasse lhes recordar
o custo de um fracasso.
O esconderijo ficava a pouco menos de um quilômetro ao sul do lugar onde a
Conferência de Wannsee se dera, numa via densamente arborizada chamada Lindenstrasse. O
local era cercado por um muro de tijolos prestes a desmoronar e outro coberto por vegetação.
Os quartos vazios cheiravam a mofo e poeira e um leve toque de conhaque. Carpas gordas
cochilavam debaixo da camada de gelo que cobria o viveiro de peixes.
Os membros da equipe se disfarçaram de funcionários de algo chamado VisionTech,
uma empresa sediada em Montreal que existia apenas na imaginação de um gestor operacional
do King Saul Boulevard. De acordo com a história inventada, eles tinham vindo a Berlim para
iniciar um empreendimento conjunto com uma companhia alemã, o que explicava o número
incomum de computadores e outros equipamentos técnicos que carregavam. A maior parte
ficou na ampla sala de jantar, que serviu como centro operacional. Poucas horas depois da
chegada, as paredes já estavam cobertas com mapas em grande escala e fotografias de
vigilância de Massoud.
Dina aceitou com satisfação a tarefa de preparar as perguntas para o tão esperado
interrogatório de Massoud, e entrar no escritório dela era como entrar numa sala de aula
dedicada à evolução do terrorismo moderno. Massoud Rahimi sempre estivera no centro de
tudo, desde novembro de 1979, em meio aos estudantes e militantes que invadiram a
embaixada norte-americana em Teerã. A maioria dos 52 reféns posteriormente o identificaria
como o tortura— dor mais cruel. Execuções simuladas eram um de seus passatempos
favoritos.
Desde aquela época, Massoud adorava ver um norte-americano implorando pela
própria vida.
A atividade importante seguinte em seu currículo se dera no Líbano em 1982, quando
ele começou a trabalhar com um novo grupo militante xiita conhecido como Organização dos
Oprimidos da Terra. Dizia-se que Massoud teve um papel-chave no encurtamento do nome
para Partido de Deus, ou Hezbollah, e que ajudou a preparar o caminhão-bomba de mais de