ANJO CAÍDO

(Carla ScalaEjcveS) #1

— Não é você que tem uma bomba no bolso.
— Só vai explodir dez segundos depois de você prendê-la no carro.
— E se ela tiver algum defeito?
— Nunca tem.
— Para tudo há uma primeira vez.
Um furgão verde e branco da polícia passou correndo, com as sirenes a toda. Yossi
permanecia congelado.
— Respire — ordenou Mikhail. — Senão a polícia vai pensar que você está prestes a
seqüestrar um diplomata iraniano.
— Não sei por que eu tenho que prender a bomba.
— Alguém precisa fazer isso.
— Eu sou um analista — retrucou Yossi. — Eu não explodo carros. Eu leio livros.
— Você prefere cuidar do motorista?
— E como eu faria isso? Deslumbrando-o com minha perspicácia e meu intelecto?
Antes que pudesse responder, Mikhail ouviu um chiado no fone, seguido por três
toques. Erguendo os olhos para a rua, ele avistou os faróis do Mercedes se aproximando.
Quando o carro passou por eles, o russo pôde ver Massoud no banco de trás, trabalhando em
alguns papéis sob a luz de sua luminária. Alguns segundos depois, apareceu um BMW,
dirigido por Rimona, com Yaakov e Oded sentados eretos na traseira. Finalmente surgiu o
station wagon Passat de Lavon, que agarrava o volante como se pilotasse um navio petroleiro
por mares traiçoeiros. Mikhail e Yossi se posicionaram para segui-los e aguardaram o sinal
seguinte.
Eles tinham chegado ao ponto que Shamron descrevia como bifurcação operacional.
Até aquele momento, nenhum limite fora desrespeitado e nenhum crime cometido, exceto
plantar uma bomba no Europa Center. A equipe ainda podia abortar tudo, se reunir, fazer uma
nova avaliação e tentar outra noite. Era a decisão mais fácil: embainhar a espada em vez de
usá-la. Shamron a chamava de "saída de emergência do covarde". Ele sempre acreditou que as
operações eram arruinadas mais por hesitação do que por imprudência.
Mas naquela noite a decisão não coube a Shamron e, sim, a um guerreiro calejado,
sentado sozinho numa casa em Wannsee. Ele encarava um monitor, vendo sua equipe e seu
alvo se aproximando do ponto sem retorno. Era a Königsallee, uma rua que seguia do
arborizado Grunewald até a movimentada Kurfürstendamm — e quando Massoud a
atravessasse, ele estaria além do alcance da equipe. Gabriel ligou seu rádio criptografado e
perguntou se alguém tinha qualquer objeção de última hora. Sem ouvir resposta, deu a ordem
para procederem. Fechou os olhos e escutou as sirenes.
Algumas pessoas no King Saul Boulevard viriam a lamentar o fato de nenhuma
gravação ter sido feita. Shamron, no entanto, discordava. Para ele, vídeos operacionais, assim
como missões suicidas, deviam ser apenas realizados por inimigos de Israel. Além do mais,
disse, nenhuma filmagem poderia capturar a perfeição da manobra. A ação foi épica, uma
fábula a ser contada para as futuras gerações à luz de fogueiras no deserto.
Começou com um movimento quase imperceptível de dois veículos — um dirigido por
Rimona; o outro, por Lavon. Ambos diminuíram a velocidade ao mesmo tempo e se moveram

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