PARTE TRÊS
O POÇO DAS ALMAS
31
Berlim — Norte da Dinamarca
O Exército de Libertação Iraniana — um grupo anteriormente desconhecido dedicado à
derrubada dos governantes teocratas do país — surgiu pela primeira vez nos radares do
Ocidente no fim da manhã seguinte, quando assumiu a responsabilidade pelo seqüestro de
Massoud Rahimi, um agente do alto escalão da inteligência iraniana. O comunicado foi feito
por meio de um manifesto entregue à BBC em Londres e divulgado num site que entrou no ar
horas depois do rapto. Entre as inúmeras exigências, estavam o término do programa nuclear
iraniano e a libertação de todos aqueles aprisionados por razões políticas, religiosas, morais
ou sexuais. Os mulás tinham apenas 72 horas para cumpri-las. Caso contrário, prometera o
grupo, Massoud sofreria a mesma morte violenta que ele inflingira a tantas vítimas inocentes.
Para demonstrar a seriedade da ameaça, foi postada uma fotografia de Massoud ladeado por
dois homens com os rostos cobertos por máscaras de lã. Ele estava olhando direto para a
câmera, com as mãos amarradas atrás das costas. Seu rosto não apresentava marcas de
violência, embora os olhos parecessem um tanto grogues.
O surgimento repentino de um novo movimento iraniano de oposição pegou muitos
jornalistas de surpresa e, durante as primeiras horas da crise, repórteres na Europa e nos
Estados Unidos não tiveram escolha além de fazer loucas especulações sobre as origens e
objetivos do ELI. Aos poucos, foi se desenhando o retrato de um grupo pequeno e coeso de
intelectuais iranianos seculares e de exilados que desejavam arrancar o país da Idade das
Trevas e conduzi-lo ao mundo moderno. No fim do dia, os especialistas em terrorismo e
analistas de política externa dos dois lados do Atlântico já falavam de uma nova força que
representava uma ameaça clara ao regime iraniano. E ninguém percebeu que as informações
que estavam sendo transmitidas com tanta autoridade tinham sido inventadas por uma equipe
trabalhando num porão em Tel Aviv.
Apenas uns poucos experts estavam familiarizados com o nome Massoud Rahimi, e
aqueles com idade suficiente para se recordarem da crise dos reféns no Irã se regozijaram um
pouco com seu destino. Mas a situação foi diferente em Teerã, onde os iranianos reagiram com
uma previsível fúria. Numa declaração oficial, eles negaram a existência do Exército de
Libertação Iraniana, negaram que Massoud Rahimi era um agente da inteligência iraniana e
negaram que ele tivesse qualquer ligação com o terrorismo. Além disso, acusaram Israel de
criar o grupo para acobertar o envolvimento com o caso. O primeiro-ministro israelense
tomou a palavra no Knesset para denunciar aquelas alegações, considerando-as um delírio de
fanáticos depravados. Ele também deu uma cutucada não muito sutil na Alemanha por
permitirem que Massoud, conhecido assassino com o sangue de centenas de inocentes em suas